TRILHA DE SONETOS XCIV- CARNAVAL 2023 - APÓS A PANDEMIA
*UNIDOS DA ALEGRIA*
O Bloco dos Unidos da Alegria
Comanda os foliões, ressuscitados,
Após os tempos mortos, desgraçados...
Na solidão e na melancolia.
Por isso, emano versos de folia,
Num bom combate aos mais desencantados
E toda casta pessimista em brados,
Numa repulsa à inveja e à rebeldia.
Exalto a festa, a glória da cultura
E a tradição que vence a fase escura,
Ao extrair os versos num coreto...
E aqueles que amam mais o doce lar
Sugiro ler ou, mesmo, desfilar
No carnaval do FÓRUM DO SONETO!
Ricardo Camacho
*O NOSSO CARNAVAL*
É festa! As emoções percorrem vivas!
E o grito, finalmente, explode agora,
Os foliões balançam na sonora
Dos sambas, empolgantes, entre as divas.
Os ricos comemoram nas Maldivas,
Conseguem seus recursos, sem demora.
O pobre, sem dinheiro, faz penhora,
E sai no bloco em danças expressivas.
Enredos são criados por escolas,
Há carros enfeitados com gaiolas...
No embalo fervoroso, sem igual.
Mulheres com pinturas, semi-nuas,
Exibem belos corpos pelas ruas...
Isso é Brasil, e o nosso carnaval.
Douglas Alfonso
*O DESFILE*
Cada tristeza segue, em meu cortejo,
a desfilar divina fantasia,
deixando atrás a antiga cor sombria
(trajando verde o espírito, eu vicejo…).
Minha esperança acena e, sem traquejo,
procura amparo à luz da poesia
que titubeia a tênue melodia
do samba-enredo mudo que solfejo…
No devaneio, segue bem faceira
cada dorzinha, em ordem, na fileira,
com riso ardil — jeitoso e natural!
Mas pouco importa a cena, em desvario,
pois, lá no fundo, afundo e me desvio
de antigas mágoas, neste carnaval!
Elvira Drummond
*SONETO DE CARNAVAL*
É sexta-feira! E um céu de purpurina
Enfeita a vida e todo o meu presente...
É carnaval! E o globo se ilumina
Feito uma bola, viva, fluorescente...
Sinto ampliar o brilho da retina
Ao ver um bloco alegre à minha frente
Que, desfilando em hora vespertina,
Vai, espalhando a azáfama contente
E, atravessando o sábado encantado,
Prossegue no domingo adocicado,
Em noite rebrilhante de alegria.
Na apoteose da segunda-feira,
Vê-se raiar a Terça brasileira,
Numa fermentação de nostalgia.
Ricardo Camacho
*CARNAVAL E NOSTALGIA*
No carnaval de antigamente havia
o sentimento de alegria pura,
a plenitude da feliz ventura,
de transportar, no coração, poesia.
À Columbina, um Pierrot dizia
da eternidade de um amor, a jura,
com o semblante a transbordar ternura,
na madrugada, no raiar do dia.
O encantamento que existia outrora
transfigurou-se num turismo agora,
em lucrativo simulacro, enfim.
Na serpentina da memória resta
a nostalgia da espontânea festa,
felicidade que chegou ao fim.
Edir Pina De Barros
*BRASILEIRISMO*
A criação e a sensibilidade
Desfazem a ilusão da tela preta
Com paetês na dor da humanidade,
Pintando os corações de violeta.
Um ânimo crescente na cidade
Ressurge após o vírus no planeta...
As roupas coloridas, na verdade,
Parecem asas de uma borboleta.
Gotejam dos confetes vivas cores,
Cobrindo abraços quentes dos amores
Em meio às sensações de coisas boas,
No afastamento dócil das mazelas
Que deixam de manchar as faces belas,
No carnaval de todas as pessoas!
Ricardo Camacho
*ALEGRE CORTEJO*
Por certo, no percurso da avenida,
verei os meus desejos no desfile…
Os beijos que guardei por toda a vida
estalam com estilo, sem que estile…
E o sonho audaz que tanto dei guarida
transcende o céu… até que se afunile,
de forma tal que, pasma e enternecida,
o brilho ofusca o olhar de azul-chenile…
O riso escancarado de menina,
é claro, vem envolto em serpentina,
tangendo, em vivos tons, a brincadeira.
E se me perguntarem das tristezas,
direi ter dado fim às asperezas,
nas cinzas usuais da quarta-feira.
Elvira Drummond
*BLOCO DA ESPERANÇA*
Bem sei transfigurar o carnaval
em bloco de lembrança cristalina,
que o tempo, benfazejo, rebobina,
recuperando o riso natural…
Bem sei que, nessa ginga, apago o mal
pisoteado junto da rotina;
as cores, se avivadas na retina,
instigam-me a cantar com o coral.
A espera da esperança, a mim compete
que venha em uma chuva de confete
com pingos que dão cor a cada plano…
pois, neste carnaval, o que eu queria
era vestir com rica fantasia
pequenas cenas do cotidiano…
Elvira Drummond
*NOSSO BAILE*
Marchinhas pelas ruas... tantos gritos,
Nos ritmos que jamais o tempo apaga
E os foliões percorrem, nessa saga,
Deixando para trás antigos mitos.
O sobrenome eterno de "Gonzaga"
O da "Chiquinha", explode, sem conflitos,
Os bardos deixam versos bem escritos,
É cada inspiração, que nos afaga.
Confetes de letrinhas são jogados
No baile dos "SONETOS" consagrados,
Irei embebedar-me, aqui, prometo.
Possamos juntos vir à doce festa,
Quem ama a poesia manifesta
"No carnaval do FÓRUM DO SONETO!"
Douglas Alfonso
*PEGANDO FOGO*
O carnaval voltou com força e brilho...
quente, pegando fogo, qual fornalha,
nos braços da folia, a cor espalha
e canta o amor vibrante, no estribilho.
No samba, o folião o show detalha,
(em rica fantasia ou maltrapilho),
envolve a "massa" - a mãe, o pai, o filho -
que vibra de alegria... ri, gargalha.
Na apoteose, o amor se descortina...
desfila o Pierrot e a Colombina,
incendiando o peito do Arlequim,
que, enciumado, a envolve em serpentina,
puxando-a para si (Mulher divina),
e juntos vão curtir o amor, enfim!
Aila Brito
*MEU CARNAVAL*
"E aqueles que amam mais o doce lar,
Sugiro ler ou, mesmo, desfilar
No carnaval do FÓRUM DO SONETO!"
Ricardo Camacho
Aqui do meu retiro tão campestre,
olhando a flava luz do entardecer,
eu sinto um verso trôpego irromper
ao ler a sugestão do amado mestre.
Leio e releio a trilha com prazer,
buscando a inspiração que em mim orquestre
o Carnaval e a cena tão alpestre:
a Mantiqueira e o sol a esvaecer.
Pertenço ao bloco Unidos do Descanso,
prefiro a cachoeira e um dia manso,
mas amo a poesia em plena festa.
Adentro, então, à trilha "Carnaval",
são dias de renovos e afinal,
é a cultura inata que se atesta!
Geisa Alves
*CELEBRAÇÃO*
Vamos jogar confete e serpentina,
Matar saudades! Vamos celebrar...
Fazer um carnaval em cada esquina,
Pelo Brasil inteiro saltitar.
Que "Pierrô" encontre a Colombina
E armado de alegria vá pular...
Na terça-feira o carnaval termina
São poucos dias para desfrutar.
Frevo e marchinhas dão o tom da dança.
Maracatu, axé e samba-enredo
Arrastam foliões na cirandança...
Com vibração, até o minueto
Põe emoção no coração do aedo
No carnaval do Fórum do Soneto.
José Rodrigues Filho
*A SAMBISTA*
Estreia a estrela e brilha na avenida,
exibe o corpo são que alegra a vista.
Na ginga, cada ação é aludida
(faz parte das escolhas dessa artista).
Ao perceber, do público, a acolhida,
capricha, com meneios, a sambista.
Aplausos é com risos que revida…
e o trono desejado, enfim, conquista.
Rainha, em pleno asfalto, fez Maria
fantasiar com sua fantasia…
altiva, desfilou no carnaval.
E, ao cozinhar, na beira do fogão,
adoça o sonho e o doce do patrão:
Rainha… no ano inteiro, serviçal!
Elvira Drummond
*ARTE IMORTAL*
É carnaval... o mundo da alegria
de volta, desfilando na avenida,
remindo a liberdade reprimida
dos dias gris, do luto em pandemia.
Chega com força a indústria da magia,
da arte imortal, ornamentando a vida;
na marcação do samba, na batida,
desfila o amor e canta a poesia.
É carnaval... despindo-se, altaneiro,
nas telas das TVs do mundo inteiro,
sua beleza, graça e liberdade...
Festeja o fim de um triste e horrendo drama,
incendiando o coração na chama
da diversão, curando a atroz saudade!
Aila Brito
*CHAVE DE OURO*
Na terça-feira, dia derradeiro,
O povo dá sequência na festança,
Enquanto mais um bloco Ilustre avança
Nas ruas desse Rio de Janeiro.
Na passarela, o samba-enredo alcança
Um apogeu de júbilo festeiro,
E, assim, seduz o olhar do mundo inteiro,
Deixando cores vivas na lembrança.
Pois, na vanguarda desse feriado,
Desfila, alegre, a essência do passado,
Levando na memória o seu tesouro
Com as imagens de imortal magia,
Tão infinita quanto a poesia
No encerramento com a chave de ouro.
Ricardo Camacho
*FANTASIA DE CARNAVAL*
Fantasiei, com destemor e glória,
a apoteose de um amor finito.
Nas passarelas atuais visito
um Carnaval de intrepidez notória.
Desafiei a magistral história
fantasiado em Arlequim aflito
e desejei, da Colombina, um fito,
mas a emoção aquietou-se inglória.
Nos subterfúgios da saudade imerso
o sentimento redecora o dia
com purpurina, paetê e sonho.
Mas Pierrot redefiniu o verso,
e o coração que na esperança ardia
no Carnaval desfaleceu tristonho!
Geisa Alves
*VEM, MEU AMOR...*
Vem, meu amor, coloque a fantasia,
a angústia terminou e o mundo agora
está sereno, pois a pandemia
deixou de governar a cada aurora.
Vem, meu amor, observe que a alegria
explode em meu semblante e, sem demora,
eu quero te sentir na sincronia
dos que abandonam o pavor de outrora!
Vem, meu amor, observe o meu sorriso,
fiz da avenida um amplo paraíso
e a máscara que visto só me apraz!
Vem, meu amor, segure a minha mão,
é carnaval, esqueça que horas são,
pois toda a escuridão agora jaz...
Janete Sales Dany
*NA PASSARELA: O SONETO*
Salteiam palavrinhas no papel…
e seguem, animadas, com molejo
que há muito tempo, juro, não revejo,
parecem desfilar em um dossel.
À escuta de um exímio menestrel,
os versos, em fileira, num cortejo,
revelam tanta graça, que festejo
a bênção da cadência tão fiel…
A ginga está nos pés metrificados,
se compassados, mostram resultados,
e escuta-se um sambinha, em allegretto.
O samba-enredo, em versos, afinal,
destaca o brilho deste carnaval,
serpenteando a dança do soneto!
Elvira Drummond
*QUE DECETO!*
"No carnaval do FÓRUM DO SONETO"
a musa desfilou embevecida;
os vates enfeitaram a avenida,
e a trilha fez a glória do coreto.
No carnaval do FÓRUM (que deceto!)
viceja a poesia assaz sortida
que abraça, que incentiva e que convida
a mais um verso e, então, eu me derreto...
Ricardo, Jerson, Douglas e José,
Aila, Janete, Edir e Luciano
Elvira e Geisa... Turma boa até!
Uma emoção invade a nova trilha,
todo soneto, ainda seja lhano,
no FÓRUM DO SONETO sempre brilha!
Geisa Alves
*PÁSSARO MUDO*
Enquanto a multidão festeja tanto
O carnaval... Os blocos, pelas ruas,
Há dias atravessam várias luas
Pulando o samba-enredo em seu encanto.
Mulatas, rebolando, quase nuas,
Exibem a performance no canto
Do intérprete, porém palpita o pranto,
Ao recordar verdades tristes, cruas.
A mácula da incauta pandemia,
Renasce por saber que poderia
Não ter matado o quanto, enfim, matou!
Se estamos vivos temos que lembrar
Dos que partiram... mas o que falar?!
Meu canto simplesmente se calou...
Douglas Alfonso
*CINZAS DA QUARTA*
Os sujos paetês, as serpentinas
E os restos de bebidas nas calçadas
Que exibem, pelos cantos, purpurinas
E as cores dos confetes, deturpadas,
Adornam novas horas matutinas,
No adeus silente às festas, encerradas,
Lançando nas memórias peregrinas,
Imagens das saudades acordadas.
Pisando sobre as cinzas do presente,
Eu sinto um saudosismo vivo e ardente
Dos carnavais brilhantes do pretérito...
O estado onírico da quarta-feira,
Na essência da cultura brasileira,
Premia os foliões com honra ao mérito!
Ricardo Camacho
*REFLEXÃO*
Despede-se, tranquilo, o carnaval,
a festa que seduz o mundo inteiro
pela beleza e o corpo escultural
da musa, com o seu olhar matreiro.
Que essa magia, além de fevereiro,
sob o poder da força divinal,
Seja constante e acenda qual braseiro,
a chama, vívida, espiritual.
O corpo é fantasia, mas o enredo
é a oração; entregue-se sem medo.
A Deus, peçamos vênias aos ranzinzas!...
E reflitamos sobre a eternidade
do espírito e, do corpo, a brevidade
- Num dia, carne; no outro, apenas cinzas -
Aila Brito
*QUARTA-FEIRA DE CINZAS…*
Se cinza, a quarta-feira nos acena
e espalha cinzas límpidas pelo ar…
Após o carnaval, há nova cena,
desfaz-se o brilho intenso a nos cegar.
O espírito procura a luz serena,
varrendo a lantejoula que restar;
a cor, em demasia, se apequena,
saímos do palanque para o altar…
É hora de despir a fantasia,
vestir a fé que ampara e que alumia
(quem crê em Cristo, nunca vive só!)
Assim, nos lembra a Santa Madre Igreja,
que é no trabalho que o pendor viceja,
e um dia todos nós seremos pó!
Elvira Drummond
*VIVE O CARNAVAL*
A vida, preenchida com lembranças,
É feito um carnaval inesquecível
Com graça nos semblantes e nas danças
E em positividade indefinível.
Após a grande festa de alto nível,
Nos progressivos ciclos das mudanças,
Mais um final se fez compreensível,
Alimentando novas esperanças.
Transcende, o carnaval, a quarta-feira,
Na ampliação da chama aventureira,
Fazendo, de um domingo, a luz crescente
E, assim, deitado pela eternidade,
Na artística expressão da humanidade,
O carnaval reluz eternamente.
Ricardo Camacho