Soneto para um pedra
E lá estava a pedra amalgamada
Com respingos de lama e de areia,
Sob o olhar sutil da lua cheia,
Num cantinho esquecido da calçada.
Era beira do mar! A maré cheia
Salgava a poesia a cada onda.
E eu imaginava a Gioconda,
Com um riso matreiro de sereia.
Poeta é mesmo um bicho intrigante:
É capaz de enxergar, por um instante,
Uma pedra esquecida num cantinho.
Um instante qualquer, sob o luar,
Onde o tempo dê tempo pra sonhar
E o sonho construa o próprio ninho.