O relógio
“Sag mir, wer einst die Uhren erfund,
Die Zeitabteilung, Minuten und Stund’?
Das war ein frierend trauriger Mann.
Er sass in der Winternacht und sann,
Und zählte der Mäuschen heimliches Quicken
Und des Holzwurms ebenmässiges Picken.”
(HEINE)
Tiquetaqueia o relógio, insolente;
Cada tique-taque querendo lembrar
Dum pecado passado ainda a me assombrar
(E dos que hei de acumular futuramente).
O monótono som ecoa, cruelmente,
Nos fundos do cérebro a martelar –
Retine! Reverbera! Quer me recordar
Que o Grande Fim se aproxima lentamente.
Feito uróboro em perpétuo renascer,
Devoras a ti próprio, dia após dia,
Só para teus passos outra vez refazer –
E ao despertar-me interrogar – dia após dia:
“O que fizeste? Que fazes? Que hás de fazer?”,
Com teu insuportável tom de ironia.