O corvo
Um corvo, talvez descendente do de Poe,
Motivado sei lá por que saiu voando –
Minha morada a atenção lhe atiçando,
Sem ser convidado a janela adentrou.
Tipicamente de sua espécie pousou
Em meu busto de Palas – sempre me fitando,
Passa dias e noites matraqueando
A enlouquecer-me como outrora ao pobre Poe;
Porém não é de minha finada Lenore
Que sou, com seu vulto agourento, relembrado,
Tampouco zomba de mim com “Nevermore!”…
Oh, não! Espeta-me a consciência o desgraçado
Com dor mais pungente, e mil vezes pior:
“Poetastro!”, repete. “O quanto hás faturado?”