Soneto clássico com mote de Manuel de Barros.

Usar o verso em qualquer posição no corpo do soneto:

“Tem mais presença em mim o que me falta.”

O LIVRO SOBRE NADA

Manuel de Barros

*NOSTALGIA *

Nas coisas que tocaste e que inda tenho,

teus beijos, um por um, são devolvidos.

E franze em mim, tristonho, o rubro cenho,

lembrando a tua voz aos meus ouvidos.

Teu cheiro, teus abraços, eu mantenho

guardados junto aos dias bem vividos,

tão claros na memória onde me embrenho

e choro os meus soluços mais doídos.

A velha casa, mãe, ainda existe,

mas feito o pôr do sol, está mais triste

qual o apagar de luzes da ribalta.

E quando esvai-se a tarde e finda o dia,

aqui me pego envolto em nostalgia...

“Tem mais presença em mim o que me falta”.

EDY SOARES

*TEM MAIS PRESENÇA EM MIM O QUE ME FALTA.*

Epígrafe de Manoel de Barros

“Tem mais presença em mim o que me falta”,

aquilo que vislumbro em pleno escuro,

talvez o que me espreita atrás do muro

onde a noite ora é tango ora é ribalta.

Um vazio me ocupa e me ressalta,

qual um lapso de tempo sem futuro.

O horizonte prossegue, com apuro,

mas não se mostra inteiro na luz alta.

Assim, sustento os dias sem a chama

que venha me assoprar os belos versos,

mesmo em dias nublados e sem cor.

Sem o lume, o poema não aclama

todo o encanto, em compassos bem diversos,

e o poeta, sem verve, amarga a dor.

BASILINA PEREIRA

*LEMBRANÇA QUE DÓI*

Distante, lá na infância, tive a sorte

de haurir da vida a plena gostosura!

Mamãe tecendo sonhos com ternura,

meu pai, com zelo, me apontando o Norte.

Não sendo, embora, um tempo de fartura,

o amor ligava a gente em laço forte.

E a amizade era nosso passaporte,

na longa estrada, agora, mais segura.

A lembrança tão vívida de outrora,

que, vez por outra, súbita, se exalta,

(Mãe! Que saudade eu tenho da senhora!)

é um sentimento antigo que me assalta!

No conforto, em que estou vivendo agora,

"tem mais presença em mim o que me falta.”

FERNANDO ANTÔNIO BELINO

*SAUDADE SANTA MATERNAL*

Num misto de alegria e de tristeza,

Recordo a minha mãe em alto astral,

Na heráldica cidade de Sobral,

Que, do Norte cearense, é a Princesa!

Lembro a mamãe feliz, ali, à mesa,

Na hora da boa ceia, como tal,

E havia amor, de modo maternal,

E mui respeito ao Deus da Realeza!

Mamãe foi o meu anjo-luz, azul,

Neste Brasil, da América do Sul,

Eis porque meu saudoso Canto a exalta!

Lembrar a minha mãe, e o seu cuidado,

Deixa-me assaz feliz, abençoado:

"Tem mais presença em mim o que me falta."

J. UDINE

*VAZIO*

Num voo sobre as plagas do passado,

Revejo, nos arroubos dos momentos,

A infinitude dos segundos lentos

E a rapidez de um tempo desaguado...

Reflito no presente, atordoado,

Na languidez dos próprios movimentos,

As atitudes sem os sentimentos,

Sorrindo à sombra de um olhar nublado...

Agora, avisto a vida do meu leito,

Mexendo as profundezas do meu peito

Distante de ilusões e da ribalta,

Sentindo a lucidez e, insatisfeito,

Sobre o que mais não fiz, pois, deste efeito,

"Tem mais presença em mim o que me falta"!

RICARDO CAMACHO

*TUA FALTA*

Nem todas as presenças deste mundo

consolam tua ausência em minha vida

pois, desde a nossa amarga despedida,

vivo um abismo cada vez mais fundo.

Eu sei que é natural uma partida

decretar o final do amor profundo

mas sofro a frustração na qual inundo

de tristeza esta vida mal vivida.

Meu grande amor, eu devo te dizer

que sinto tanto, tanto, a tua falta,

que até me esqueço, às vezes, de viver.

Tua ausência é um fantasma que me assalta

e eu digo, mergulhado, em meu sofrer:

"tem mais presença em mim o que me falta!"

ARLINDO TADEU HAGEN

*INDAGAÇÕES*

Tenho, de ausências, farto o pensamento,

"tem mais presença em mim o que me falta."

Quedam no antanho as luzes da ribalta,

insta o hodierno fútil e cinzento.

A desfiar a angústia que me assalta,

se fecho os olhos, ouço o meu lamento

e se abro os olhos, acho-me sedento

nesta sofreguidão... de falta em falta...

Nem mesmo sei dizer o que agonia

os dias meus e a minha poesia,

o que levou os azos benfazejos.

Eu morro a cada fôlego e nem sei...

Esta saudade, ao fim, entenderei?

Encontrarei resposta aos meus desejos?

GEISA ALVES

*VITRINE DE AFETOS…*

Coleciono afetos na vitrine

que exibe sentimentos… quem os vê?!

Lembranças… eu dispenso que as assine,

são cenas sem imagens de HD.

Sorrisos? Quem os compra em magazine?

Dispostos, um a um, em degradê,

transitam no “replay” que me define.

(Que falta imensurável de você!)

Notando a prateleira tão vazia,

preencho-a com o olhar de fantasia —

resgate do passado que me assalta…

Ouvir os alaridos da avenida

não ensurdecem o ontem que intimida…

“tem mais presença em mim o que me falta”.

ELVIRA DRUMMOND

*INSPIRAÇÃO*

Frequentemente enfrento o desafio

De transcrever aquilo que não sinto...

Confesso, sou poeta e às vezes minto:

No verso faço enchente em pleno estio.

Mas é comum ficar horas a fio

Sem um poema, ainda que sucinto,

E fico feito um gavião distinto,

Voando com o estômago vazio.

Na minha trajetória feita em verso

Caminho, mas, não raro, me disperso...

E a nobre poesia aos olhos salta.

Eu sigo pela estrada da incerteza

E, nessa intensa busca por beleza,

“Tem mais presença em mim o que me falta”.

GlLLIARD SANTOS

*A UM ANJO MÃE*

Se fecho os olhos, vejo claramente

a tua imagem terna, mas guerreira,

doando-se à família a vida inteira...

Um anjo, aqui na terra, simplesmente!

Relembro o teu olhar e de repente

do meu olhar escorre, sorrateira,

a lágrima saudosa e interesseira

em tê-la aqui comigo novamente!

Quando me sinto só, aos céus, reclamo:

teu colo, teu carinho, o teu abrigo...

E brado, para que ouças: te amo... te amo!...

Exponho o desespero que me assalta,

mas quero, ó mãe, que escute o que te digo:

"tem mais presença em mim o que me falta"!

AILA BRITO

*CHEIO DE NADA*

Estava lendo um texto que me apraz,

Pelo seu conteúdo de otimismo,

Que falava de fé, amor, de paz,

E me ajudava a me livrar do abismo.

De repente, de longe alguém me traz

Um verso que sugere pessimismo,

Um mote singular, que foi capaz

De me levar de volta ao ceticismo.

Pediram-me um soneto, a mim fizeram,

Talvez, eu creio, um grande desafio.

Eis a letra mortal que me impuseram:

"Tem mais presença em mim o que me falta"

Fiquei tão impregnado de vazio...

Que enorme depressão quase me assalta.

RAYMUNDO SALLES

*LACUNAS*

No olhar retrovisor, busco o "amanhã"...

Ao longe a infância acena à própria sina

com negativos soltos na retina

quais sombras e silêncios no divã...

Seguindo vou, a mente peregrina,

na pressa de encontrar um novo afã...

Ausência... reticência... Ai, como é vã

a esquina onde perdi a tal menina!

O abraço não roubado; o adeus não visto;

o sonho empoeirado na gaveta;

o rosto amigo em palco sem ribalta...

nas ruas mais vazias me despisto,

e encontro, de minh'alma, outra faceta:

"tem mais presença em mim o que me falta!"

LUCIANA NOBRE

*QUANDO A SAUDADE NOS FALA*

Rabisco, num papel amarelado,

o nome indecifrável que outro dia

a minha alcova havia transformado

num palco abrasador de intensa orgia.

Pranteia o seresteiro um triste fado

falando de paixão e nostalgia,

a solfejar acordes de um passado

que nem infindo lenço enxugaria.

A noite, a contragosto, continua,

e o firmamento opaco exibe a lua,

ressuscitando as luzes da ribalta

de um coração entregue à veleidade,

que escuta a voz sublime da saudade:

“Tem mais presença em mim o que me falta”.

ADILSON COSTA

*DIÁLOGO COM A SOMBRA*

Quando a resignação acaricia

Minha alma desolada, triunfal,

E a folha ressequida, fugidia,

Vasculha tediosa meu portal...

E um tom crepuscular se prenuncia,

Em cores bizantinas de vitral...

Os cortinados, com a brisa fria,

Agitam-se em monótona espiral,

É que eu escuto a sombra de capuz...

"Tão longe vai, dos dias teus a luz...

Tudo se foi de ti... Que mais te exalta,

Além de, resignado, me esperar?"

Então respondo, de olhos fixos no ar:

"Tem mais presença em mim o que me falta!"

PAULO MAURÍCIO G SILVA

*PÉTALAS MORTIÇAS*

Com seu eflúvio doce e solidário

às lágrimas que brotam da agonia,

nos restos de um antigo viridário

a rosa agonizante me alivia.

O colorido preso no cenário

traçado na lembrança fugidia,

aflora, quando vejo necessário,

o abraço generoso da utopia.

Envolto pela brisa, acalmo o pranto

e em pétalas mortiças acalanto

os brados deste apego que me assalta.

Querida, desde o aceno derradeiro,

o amor se fez perfume e, frente ao cheiro,

"tem mais presença em mim o que me falta!"

JERSON BRITO

*O VAZIO INTERIOR*

Dentro de mim eu sinto um grande nada,

Vazio que me faz compreender

Que existe imensa sede no meu ser,

Escura noite à espera da alvorada.

A essência, quanto mais esvaziada,

Faz aumentar o espaço a preencher,

Faz o Divino agir com seu poder,

Para deixar minha alma sossegada.

As coisas que eu possuo e que me sobram

Não tornam minha essência embevecida,

Pois não estão no foco da ribalta.

Mas no vazio os sonhos se desdobram,

A busca é a razão da minha vida,

"Tem mais presença em mim o que me falta"!

LUCIANO DÍDIMO

*PRINCÍPIOS*

Jamais, dos meus princípios, fiz o inverso,

E não farei à branca e vil loucura

Sem cadência, sem métrica, sem cura,

Num ilogismo insano e tão reverso.

 

Não chegarei ao modo controverso

Da minha tola e vã descompostura,

Pois a lírica abraça com ternura

Aos que expõem as vísceras em verso.

 

Idolatria: amor em profusão.

Consultem alfarrábios e verão

Veraz conotação: amar em fúria.

 

E livre de qualquer cruenta injúria,

Esta furtiva antítese me assalta:

“Tem mais presença em mim o que me falta.”

 

PAULINO LIMA

 

*SONETO EM DOR MAIOR*

“Tem mais presença em mim, o que me falta” ...

Repleto de vazios trago o peito,

Prossigo o meu caminho e quando o espreito

Jamais encontro o rosto teu, peralta.

Tristeza tão profunda vem e salta

Nas lágrimas que escapam sempre e a eito

Dos olhos meus e à dor eu me sujeito

Por não te ver nas luzes da ribalta.

Eu tudo tenho e nada tenho agora,

Além da poesia que me aflora

Das profundezas da alma, já sem brilho.

Estás presente em cada prosa e verso,

Nas brenhas de meu ser estás imerso

E vivo em mim prossegues, sempre, filho.

EDIR PINA DE BARROS

*AMOR*

Amor, a porta permanece aberta,

desde o dia da sua despedida,

e todo alvorecer jamais me oferta

algo que traga a paz que foi perdida.

Amor, a nossa casa está deserta,

cheia de solidão e, sem saída,

meu ser pranteia, nunca se liberta,

aos poucos, perde o fôlego da vida!

Amor, queria só interromper

a dura desventura que me assalta

e turva todo dia o meu viver!

Amor, constato sempre a tal verdade:

“tem mais presença em mim o que me falta,”

pois reina em meu olhar a audaz saudade!

JANETE SALES

*UMA PRESENÇA SEMPRE VIVA EM MIM*

Faz setecentos meses que alimento

e, nítidas, preservo em minha mente

as lembranças de quem, precocemente,

foi levada de mim por mal cruento.

Nunca, de tais lembranças, afugento

a de vê-la a meu lado, já doente

e frágil, mas alegre, sorridente,

a despeito do imenso sofrimento.

“Tem mais presença em mim o que me falta”,

qual nas cenas que a mente fantasia

com ela a partilhar, no dia a dia

comigo, o amor que, estando sempre em alta,

durou trinta e três anos de ternura;

dois, de lutas em vão por sua cura.

KLEBER LAGO

*DEPRESSÃO*

Embora fosse rico em ouro e prata

E a todos se mostrasse alegremente,

Andava mascarando a dor pungente

E a angústia que julgava ser inata.

"Liberta-me da dor que me maltrata",

Pedia em oração amargamente,

Mas não lhe respondia o Onipotente.

"Por certo, Deus me deu a cruz exata!"

Porém, enquanto estava em sua lida,

Tomou-lhe a ideia vil e suicida,

Que a mente acalentou de forma incauta.

Morreu, depois de dois ou três cigarros,

Citando o grande Manoel de Barros:

"Tem mais presença em mim o que me falta!"

RAFAEL FERREIRA

*PERGUNTANDO À LUA*

Eu vivo perguntando à augusta lua

que enfeita minha noite insone e fria:

—Por que fez prisioneira da Poesia

minha alma, que no céu também flutua?...

E a luz refulge, e brilha, e se acentua

e eu penso na resposta que viria

calando as incertezas, todavia,

a dúvida insistente continua.

A lua, majestosa no seu lume,

oculta-se da nuvem no negrume,

na bruma melancólica que a assalta.

E a musa, então, recolhe-se, sentida,

sem ter a sua súplica atendida

(tem mais presença em mim o que me falta).

PAULO TÓRTORA

*TUA FALTA*

Dentre as coisas que eu tenho a postergar,

Tantas que não esqueço sem ter mais...

Imagino teus traços sensuais,

Nossos corpos em chamas no luar.

Lembro cada soneto à beira-mar,

Celebrando os encontros casuais,

Delirantes pecados capitais...

Já tentei, mas não sei desapegar.

Lar, família e valores desprezados,

Os amores que vem, são renegados

Pelo vil desencanto que ressalta.

Esta ausência doída e quase infinda

E o queixume das noites diz-me ainda:

"Tem mais presença em mim o que me falta."

TROYA D'SOUZA

*NADA ME FALTA.TENHO TUDO Nº 7.669*

-

Tento saber dos males, dentre tantos,

que tanta gente chora e faz lamento;

no mundo existe fome, em quatro cantos;

amor é fruto raro, neste intento.

-

Ausente luz traz choro, negros mantos!

No patamar da vida, em banco sento;

no meu teclado, o canto tem encantos,

com pais amados, meu viver foi bento.

-

Irmãos unidos, risos, filhos, beijos...

Na caridade vi razão de sobra;

plantamos fé; até fizemos queijos.

-

“Tem mais presença em mim o que me falta.”

A gratidão nenhuma coisa cobra:

_ Se nada falta, Deus, o tudo exalta.

-

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA

*O QUE HÁ EM MIM*

"Tem mais presença em mim o que me falta."

Ali distante a minha inconsciente

Infância bela, tão rapidamente

Furtada, atroz o tempo que me assalta.

Aquele ser menino assim peralta,

Que nem mais lembra o incauto e paciente

Aluno tão franzino, bem à frente

Sentado e nunca dado a alguma falta.

Então, em vez daquele tempo belo,

As horas seguem rápidas marcando

O adulto, digo velho, caminhando

No rumo da ceifeira com cutelo.

Ah, mas que bom seria uma tal troca!

Tem mais ausência em mim o que me toca.

MÁRCIO ADRIANO MORAES

*TURBULÊNCIAS*

Se a treva esconde a face do luar,

e no horizonte o sol não mostra o riso,

se a primavera oculta o seu bailar

e a solidão assalta sem aviso,

Se a tempestade açoita o grande mar,

e o navegante treme, perde o siso...

Como voltar à paz e a vida amar?

Reinventar o mundo é o que preciso.

Ter fé, resiliência, confiança,

que tudo voltará a ter bonança.

Só quero amar a luz que a tudo exalta.

Porém, de tudo que amo e faz-me rir,

infelizmente posso concluir:

"Tem mais presença em mim o que me falta."

MARLENE REIS

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 02/02/2023
Reeditado em 05/03/2023
Código do texto: T7709744
Classificação de conteúdo: seguro
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