ENTRE RISOS E DORES/ HOMEM DE AÇO

 

 

MOTE: "Gargalha, ri, num riso de tormenta" - V.    1

                 "ri! Coração, tristíssimo, palhaço".......- V. 14

                                  ( Cruz e Sousa)

 

 

ENTRE RISOS E DORES - I

 

"Gargalha, ri, num riso de tormenta",

as dores sepulcrais, mas no semblante

plagia o regozijo dissonante,

purgando a dor real, sanguinolenta.

 

Gargalha um riso falso que alimenta

a diversão do público pagante,

que vibra, sem notar o triste instante

daquele que padece e mal se aguenta!...

 

Esforça-se, gavroche, em sua messe,

e esquece a provação da qual padece

vestindo a fantasia de homem de aço!

 

E embora o corpo lasso e o peito em chama,

disfarça em sua face o próprio drama,

"ri! Coração, tristíssimo palhaço".

 

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HOMEM DE AÇO - II

 

"Gargalha, ri, num riso de tormenta"

a chaga que corrói o pobre peito,

mas por instantes, finge, e com efeito

desliga-se da angústia que o atormenta.

 

Gargalha, enquanto a dor experimenta!...

E embora trucidado, não tem jeito,

Incita toda a massa e com trejeito

atrai o riso farto, que o alimenta!

 

Agita os guizos, expulsando os "ais",

ora vencendo as dores espirais,

como se fosse um deus... Um homem de aço!

 

E embora a mágoa inunde o coração

e as lágrimas deslizem pelo chão,

"ri! Coração, tristíssimo palhaço".

Aila Brito
Enviado por Aila Brito em 23/01/2023
Reeditado em 01/01/2024
Código do texto: T7702429
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