ENTRE RISOS E DORES/ HOMEM DE AÇO
MOTE: "Gargalha, ri, num riso de tormenta" - V. 1
"ri! Coração, tristíssimo, palhaço".......- V. 14
( Cruz e Sousa)
ENTRE RISOS E DORES - I
"Gargalha, ri, num riso de tormenta",
as dores sepulcrais, mas no semblante
plagia o regozijo dissonante,
purgando a dor real, sanguinolenta.
Gargalha um riso falso que alimenta
a diversão do público pagante,
que vibra, sem notar o triste instante
daquele que padece e mal se aguenta!...
Esforça-se, gavroche, em sua messe,
e esquece a provação da qual padece
vestindo a fantasia de homem de aço!
E embora o corpo lasso e o peito em chama,
disfarça em sua face o próprio drama,
"ri! Coração, tristíssimo palhaço".
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HOMEM DE AÇO - II
"Gargalha, ri, num riso de tormenta"
a chaga que corrói o pobre peito,
mas por instantes, finge, e com efeito
desliga-se da angústia que o atormenta.
Gargalha, enquanto a dor experimenta!...
E embora trucidado, não tem jeito,
Incita toda a massa e com trejeito
atrai o riso farto, que o alimenta!
Agita os guizos, expulsando os "ais",
ora vencendo as dores espirais,
como se fosse um deus... Um homem de aço!
E embora a mágoa inunde o coração
e as lágrimas deslizem pelo chão,
"ri! Coração, tristíssimo palhaço".