Soneto negro
Afasta de mim este instrumento mortal,
Senhor, meu Deus, se és de fato piedoso!
Este punhal desvia – sangrento, horroroso
Portento de um negro arcano infernal!
Afasta, ó Deus, esta visão espectral,
Este olho sem pálpebra insone, pavoroso,
A me seguir com seu cortejo asqueroso
De vozes sem corpo a proclamar o mal!
Ó Deus! Meu Deus! Será vã minha oração,
E ouvidos não há que possam me ouvir
Tampouco luz que irrompa pela escuridão?
Senhor! Se ouvidos há que possam me ouvir
E luz a irromper por esta escuridão,
Mandai-me o Fim que há anos venho a perseguir!