A uma amiga ausente
Talvez não mais habitemos o mesmo plano…
O Tempo, a velha serpente que se devora,
Segue fazendo o que sabe – e agora
Penso que até já deixaste o mundo humano.
O Tempo, este bravio, profundo oceano,
Erodiu tua imagem, levando-te embora
Das galerias de meu pensar – e agora
Desaprendo tuas feições a cada ano.
Hoje não tens mais voz, nem forma, ou corpo, ou ser –
Mas segues, espectral, etérea, a resistir,
A lembrar-me de nunca, ao fim, te esquecer –
Saudosa abstração! Perduras a existir
Desprovida de voz, de forma, corpo e ser,
Amorosa, amada lembrança a persistir…