Tocar ou escrever
Ao piano, toco um noturno,
linha melódica em ascensão;
mas foge-me a concentração
e envolve-me um ar soturno.
As notas saem dos dedos
e desfazem-se como vapor;
deixam-me com meus medos
e com o retrogosto do rancor.
O som espalha-se, mas não fica.
O que escrevo, aqui permanece;
a melodia foi, nem sequer repica.
Tocar é esforço que breve fenece
enquanto o escrito da mesa grita:
Escreva! Escrever é ato de benesse.