Porre Homérico
Eu vou tomar um porre de paixão
E ansiar a musa em poesia.
Carpir a solidão como carpia,
Nas cordas do meu velho violão.
Vou rabiscar sonetos no balcão
Do botequim, que ora só existe
Na sombra da lembrança (alegre ou triste),
Que vaga entre o instinto e a razão.
Vou incluir na conta, pro garçom,
Um verso escrito, em letra de batom,
Com falsa e vulgar caligrafia.
E quando eu der por mim, ao fim porre,
E a paixão disser que nunca morre,
Eu vou mentir, que há muito já sabia.