O riso
Gargalha, ri, num riso de tormenta” *
por entre a lassidão que te devora,
mesmo que o dia, à viva luz da aurora,
guarde, da noite, a sátira cruenta.
Insiste em rir, ó boca macilenta,
malgrado o horror letal que te apavora,
ainda que os sorrisos, neste “agora”,
de tantos males sejam uma ementa.
Se a vida jaz envolta em densa sombra
e se a memória traz o que te assombra,
serve-te um riso mais que nervos de aço.
Então, se o mundo exibe o rosto espúrio
e a morte configura o exato augúrio,
“ri! Coração, tristíssimo palhaço.” *
* Cruz e Souza em Acrobata da dor
Foto: Canva
Do amigo Jacó Filho:
O SORRISO
Perdendo o mapa donde as ilusões provinham,
Pro vento frio do minuano, e ainda me lembro,
Trago as vestes sacudidas pela força do tempo,
Com dores de acoites, que nada os continham...
Lembro calado, as causas, cicatrizes e feridas.
Que dilaceram os sonhos das almas perdidas.
E o dom de sorrir é violado de forma atrevida...
Escuto o coração poético, declamando soluços,
Redesenhando o passado em clássicos sonetos.
Surpreendo-me com quimeras do belo absoluto,
Exorcizando as dores desvendadas em folhetos,
Por um ego sufocado em seus sonhos obsoletos...
Tão louca poesia, tem a sua origem intrauterina,
Quando na estreia, venceu a dor, me recebendo,
Transforma meu canto no poema, que vencendo,
Moldou o sorriso, que reescreveria a minha sina...
Refletiu em versos, as emoções desse remanso,
Como seios, que alimentam meu espírito, hoje...
Manteve o ânimo a espera dum grande arcanjo,
A fazer-me sorrir como se um felizardo, o fosse...