Escatologia pudica
O cocô do poeta é inodoro,
Como a fez de um belo passarinho
Que borrifa, as pedras do caminho,
Com extremo cuidado e com decoro.
O cocô do poeta é um tesouro
Escondido no chão da poesia,
Como fosse um saber que não sabia
Que o sábio morreu num matadouro.
O cocô do poeta, quem diria,
Tem a cor e forma de quem cria
A mais monumental obra de arte:
Um rolinho roliço e displicente
Que transita, do cólon para a mente,
Servindo obras-primas a la carte.
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O ESPAÇO DA ARTE
Jota Garcia
Não vejo motivo para estranheza,
Tudo aquilo que da vida faz parte,
É espaço que pertence à arte:
Cara, coroa, feiura e beleza.
É inerente a sua natureza
Não há tema que o poeta descarte,
Liberdade é sempre seu estandarte,
Revelar de tudo sua crueza.
O que, por pudor, todo mundo esconde,
Seja um Rei, um Barão, um Visconde,
Ou mesmo um plebeu desconhecido,
Sua pena vai lá e mostra tudo,
Na real: forma, cor e conteúdo.
Deixa tudo às claras, nada escondido.