Êxtase
"Trompas do sol, borés do mar, tubas da mata", *
silenciai e ouvi, da noite, os alaridos.
O dia agonizou por entre anseios idos,
e a lua, em esplendor, aos olhos arrebata.
Rebrilham os cristais em fúlgida cascata,
revestem o luar de intrépidos vestidos;
Os sonhos todos são na poesia urdidos;
a noite já nasceu, ouvi a serenata.
Horas de languidez... Desejos infinitos
transbordam pelo olhar que nada mais omite,
em ânsia de viver os mais divinos ritos.
Na mágica mudez, um som, então, se eleva:
um êxtase de amor, sem pejo e sem limite,
"entre o pudor da tarde e a tentação da treva." *
* Olavo Bilac
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