Rascunho

Já não assino mais um só soneto,

Pois o meu velho estro, empobrecido,

Já não sussura a mim no pé d'ouvido,

Nem tenta dar à luz ao que prometo.

Já não consigo achar qualquer sentido

Nos versos que sobejam minha mente.

Parece que meu estro, de repente,

Desvia-se das flechas do cupido.

Já não seguro a pena com destreza

Pra impingir aos versos, a beleza

Que a poesia, ávida, procura.

Já não consigo ler meu coração,

Que parece um rascunho feito à mão,

Em um quadro sem tela e sem moldura.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 19/12/2022
Reeditado em 19/12/2022
Código do texto: T7675368
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