Rascunho
Já não assino mais um só soneto,
Pois o meu velho estro, empobrecido,
Já não sussura a mim no pé d'ouvido,
Nem tenta dar à luz ao que prometo.
Já não consigo achar qualquer sentido
Nos versos que sobejam minha mente.
Parece que meu estro, de repente,
Desvia-se das flechas do cupido.
Já não seguro a pena com destreza
Pra impingir aos versos, a beleza
Que a poesia, ávida, procura.
Já não consigo ler meu coração,
Que parece um rascunho feito à mão,
Em um quadro sem tela e sem moldura.