Voo noturno
Percebi-me sendo engarrafado, sem gênio ser;
envasado como azeite, sem ao menos parecer.
Como seguir a vida estando tão amedrontado,
sem nem sequer poder sentir-me confortado?
Girava e girava, e girava o mundo em mim;
mas quem girava? Era o mundo, ou o fim?
Confuso, lerdo, estava eu como anestesiado,
ou nada percebia por manter-me mascarado?
Vejo-me correndo, abrindo devagar os braços;
tarefa impossível, essa de livrar-me do novelo.
Acelero para fugir, apertando bem meus passos.
Consigo, enfim, alçar meu voo, que desmazelo!
Deixei-os um a um ao chão, aqueles tantos laços
Agora, do alto da torre, sei que foi só um pesadelo.