Despedida
Era uma noite sôfrega e sombria,
o antes do fim, o instante encantador;
pela janela viam-se a ardentia
e o jasmineiro aberto todo em flor...
Fitava-a no silêncio e estremecia
num derradeiro frêmito de amor.
A pele nua expunha-se, macia,
num ângulo excitante e sedutor.
Mas já sentia frio o próprio sangue,
a mente entorpecida, o corpo exangue,
submissos ao torpor da eleita sorte.
À luz da aurora, ritos de abandono:
enquanto a bela adentra o doce sono,
o homem silente rasga o véu da morte
Este soneto é um diálogo com a pintura “Rolla", 1878 de Henri Gervex que, por sua vez, foi inspirado num longo poema de Alfred de Musset.
O poema trata da trajetória de Jacques Rolla, um cético adolescente francês que, após esgotar a herança do pai, decide entregar-se à morte.
Na noite em questão Jacques Rolla encontra Marion e experimenta, em seus braços, um primeiro e último instante de amor.
Foto: Google
Do amigo Jacó Filho:
TRISTE DESPEDIDA
Queixa-se porque da vida se despede,
Cheio de amor, e por vontade própria,
Por não suportar a dor que antecede,
A pobreza, que o privaria da esbórnia...
Adorando sua ninfeta, que se despe,
Embriagada de beleza, a alma sóbria,
Queixa-se porque da vida se despede,
Cheio de amor, e por vontade própria...
Entregue a boemia o seu ouro, perde,
Vendo o trabalho apenas pra escória,
Ao extremo desespero sua alma cede,
E abrindo mão de uma nova história,
Queixa-se porque da vida se despede...