Amor fingido
Mal sentei-me para com as plantas estar
e observo folhas girarem, a me encontrar.
Olhamo-nos, estáticos, com assombro;
uma, a menor, estava a tocar meu ombro.
De minha face alva escorria lacrimosa,
a menor pôs-se a verter seiva viscosa;
tinha algo a me revelar, essa tal folha:
Ah! quão boa fora, enfim, minha escolha!
Ele nem sequer deveria ter aparecido;
pior ainda, foi por mim tão bem recebido.
E num gesto de abandono, veio sorrindo;
restou-me fazer-lhe a vontade, sucumbindo.
Revelou-se, então, o oportunista despido;
com tantos pecados arrastou-me, cobrindo;
esse belo, potente, qual mármore esculpido.
Como as folhas previram, iria escapar fugindo.
Contrariado, para não me flagrar corrompido,
encenei que, ao amá-lo, estava só fingindo.