Amor fingido

Mal sentei-me para com as plantas estar

e observo folhas girarem, a me encontrar.

Olhamo-nos, estáticos, com assombro;

uma, a menor, estava a tocar meu ombro.

De minha face alva escorria lacrimosa,

a menor pôs-se a verter seiva viscosa;

tinha algo a me revelar, essa tal folha:

Ah! quão boa fora, enfim, minha escolha!

Ele nem sequer deveria ter aparecido;

pior ainda, foi por mim tão bem recebido.

E num gesto de abandono, veio sorrindo;

restou-me fazer-lhe a vontade, sucumbindo.

Revelou-se, então, o oportunista despido;

com tantos pecados arrastou-me, cobrindo;

esse belo, potente, qual mármore esculpido.

Como as folhas previram, iria escapar fugindo.

Contrariado, para não me flagrar corrompido,

encenei que, ao amá-lo, estava só fingindo.

René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 25/11/2022
Código do texto: T7657369
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