Amo o seu desejo
Tarde veio a mim, a insólita descoberta
para ver-me enganado, por anos e anos,
Relembrando, amargurado, meus ufanos
porque acreditava possuir a ficha certa.
Na primeira vez, só furor incandescente;
brilhos, sonhos, o corpo todo a queimar.
Pulso latejante, rios de lágrimas a rolar;
no instante seguinte, tudo evanescente.
Tudo se me parecia mero fogo de palha;
para amá-lo, não seria eu um incapaz?
Nada valia a pena; ninguém que o valha.
Precisava fugir de tudo o que é fugaz.
Recompor-me é receita que não falha,
e vi: amo só o seu desejo, meu rapaz!