SONETO METIDO A BESTA
Por hoje estar em meu modo loquaz,
Aproveito para fugir do óbvio.
Assim não mais me verão um pacóvio,
Um soturno e taciturno, não mais.
Quem apenas panegíricos faz,
Apenas vislumbra o atavio,
Por ele formulando o corolário,
Recônditos deixa os essenciais.
Depois destes versos perfunctórios,
Dignos de portas de mictórios,
Só me resta a saída à francesa.
Fui pernóstico, mas tenho certeza,
Que a carapuça cabe na cabeça
De alguém, além de mim, que a mereça.
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Na opinião do amigo Herculano Alencar, nenhum poema é tão ruim que não mereça
um pouco de atenção, por isso me enviou "Uma boa companhia" :
Um poeminha besta
E lá está o ponto na vidraça
à sombra de um silêncio sepulcral,
como se fosse a mesma pá de cal
que sinaliza o leito da desgraça.
Ao lado desse ponto há uma traça
parada na metade do caminho,
pra não deixar o ponto tão sozinho,
ou simplesmente por pura pirraça.
Enquanto o ponto fica e a noite passa
eu tomo mais um gole de cachaça
e ponho um verso a mais à luz do dia.
E quando a embriaguez enterra o sono,
a traça faz do ponto um cão sem dono
e eu transformo o ponto em poesia.
Herculano Alencar