Nunca foi só o que foi
Lá atrás, num outono, há décadas corrido,
vem ágil, inesperado, o primeiro desejo.
Agachados, lado a lado, desabrido,
ouvia eu, calado, seu pulso latejo.
Geladas, as mãos ousam se roçar,
e percebem-se trêmulas, a hesitar.
A ousadia vence; gera certo impulso;
cresce, explode, sêmen expulso.
Anos de furtivos encontros, na nudez
de rumos incertos, obstinados,
e, então, você se casa, pela sensatez.
Certo de que não há dia sem me recordar
de você, de nós e de tudo o que foi,
para o corpo e a mente poder sossegar.