Do que não é dito
Pego-me a ruminar sobre o que tenho dito;
sobre as boas e más falas que expedito,
entre as tantas humilhações e encorajamentos
que minha boca expele como excrementos.
Desdizer o dito pouco benefício me traz,
mesmo desculpar-se parece-me ineficaz.
Dolosa ou culposa, a frase foi proferida;
este mal em mim causou-me doída ferida.
Posso, então, controlar aquilo que digo,
filtrar e mitigar palavras, gestos e olhares.
Mas, e quanto àquilo que não chego a dizer?
Pensamentos me surgem com ou sem crivo;
Sentimentos sempre brotam aos milhares
e só não os digo, mas em mim estão a viver.