Amigos? Obrigado!
Pouco tempo faz que tive de aceitar
que ando cercado por muitos amigos.
Todos hipócritas! Falsos, a me enganar;
só têm olhos para meus carnudos figos.
Errado estou eu e, agora, quão bem o sei!
Tudo sempre estava lá, tão óbvio, tão claro
que preferi assumir ares outros e compensei
para não enfrentar a solidão, sem amparo.
Essa tal amizade fundava-se numa doentia simbiose:
alimentávamo-nos reciprocamente, pensando nas almas,
mas tudo não fazia mais que encenar macabra neurose.
As trocas que havia entre nós se foram tornando tóxicas;
a ruptura, necessária libertação, como cirurgia de fimose,
o gradual afastamento tornou-nos, então, pessoas próximas.
Inimigos? Jamais! Amigos? Não mais!