Poderes do Amor
“O meu amor faísca na medula,” *
pois que no rosto esplende em timidez;
faz-se, no escuro, a estrela, a luz, a vez,
na aurora, com o oculto, congratula.
E sendo fome, não se dá à gula,
da sua sede, nasce a embriaguez.
Rendido pelos beijos de avidez,
o meu amor, silente, geme e ulula.
Amor tristonho, ainda assim risonho,
reviverá depois de minha morte,
e fulgirá nos ermos com que sonho.
Tudo que sou resiste nesse amor,
o meu desejo, a estranha e tênue sorte,
pois que morrendo, acende-se em fulgor!
* Carlos Drummond de Andrade
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