Poderes do Amor

“O meu amor faísca na medula,” *

pois que no rosto esplende em timidez;

faz-se, no escuro, a estrela, a luz, a vez,

na aurora, com o oculto, congratula.

 

E sendo fome, não se dá à gula,

da sua sede, nasce a embriaguez.

Rendido pelos beijos de avidez,

o meu amor, silente, geme e ulula.

 

Amor tristonho, ainda assim risonho,

reviverá depois de minha morte,

e fulgirá nos ermos com que sonho.

 

Tudo que sou resiste nesse amor,

o meu desejo, a estranha e tênue sorte,

pois que morrendo, acende-se em fulgor!

 

* Carlos Drummond de Andrade

 

Foto: Pinterest

 

Geisa Alves
Enviado por Geisa Alves em 17/11/2022
Reeditado em 15/12/2022
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