Mote
A vida dá o mote, a poesia
Dá apenas a glosa ao poeta,
Enquanto o soneto se completa
E outorga, ao poeta, a autoria.
Rimar é como andar de bicicleta,
A pedalar o nunca e o jamais.
Ou pôr as consoantes e vogais
No sentido do verso, em linha reta.
A vida dá o mote, o soneto
Apenas cede o rijo esqueleto
Pra que a poesia siga avante.
E vai de verso em verso, junto à glosa,
Levar o beija-flor até a rosa,
E o beijo até a boca da amante.