O POETA E A MENTIRA
O poeta é um mezzo mentiroso,
Que escreve o que sente e o que não sente.
A mentira pode estar num repente,
Ou até num soneto esplendoroso.
O poeta mente mais quando idoso,
Tem versos em excesso em sua mente.
A velhice o torna mais carente,
Mais vivo, mais esperto, mais manhoso.
Mas não tirem do poeta a mentira,
Pois dela e do sonho é que ele tira
O anima* e a sustentação.
É assim, que retira o pé do chão
E voa nas palavras em delírio,
Pelo espaço leve da emoção.
"Noventa por cento do que eu escrevo é invenção.
Só dez por cento é mentira”. - Manoel de Barros