SONETO CLÁSSICO HEROICO/SÁFICO EXALTANDO A PRIMAVERA.

Atividade do mês de outubro/2022, onde cada acadêmico escolheu um tipo de flor para o tema de seu soneto:

*FLOR DE LARANJEIRA*

Após os meses invernais, cinzentos,

A natureza redecora a vida

Com suas flores e os vitais momentos

Devolvem cores que ninguém duvida.

A primavera, renovando alentos,

Reflete o amor ao adornar a lida,

Atenuando os ancestrais tormentos

Com a magia divinal, garrida!

Desse cenário em florescência externa,

Raia o fenômeno da chama interna

No ser que vence a mínima cegueira.

O novo ciclo, em ascensão, impera

Gerando a essência em nossa enorme esfera,

Com doce olor de flor de laranjeira.

Ricardo Camacho

*FLOR DO SERTÃO*

No fim do inverno, o mato ressequido,

a terra em brasa, o campo estorricado,

e a cagaiteira, em festa no cerrado,

vestida em branco véu, de flor tecido.

Abelhas vêm festivas, em zumbido,

de flor em flor, no dia ensolarado.

Recolhem, sem cansaço, com cuidado,

o néctar gentilmente oferecido.

Não há, de fé na vida, outra lição,

que mais possa gerar contentamento,

trazendo-me esperança ao coração.

A cagaiteira em flor revela ao vento,

em meio a tanto cinza e sequidão,

que a primavera está em andamento.

Fernando Belino

*FLORES DE IPÊ*

Depois de quase um ano já passado,

nesse cerrado seco, tão tristonho,

no fim de duro estio, feito um sonho,

enflora o ipê, desnudo, desfolhado;

às vezes nos parece até bisonho

florir, enquanto tudo amortalhado

assiste o deslumbrante e raro fado:

seu viço passageiro, mas risonho;

efêmeras, etéreas, delicadas,

dançando pelos ares, quais falenas,

as flores, às centenas, vão ao chão;

encantadoras, ímpares floradas,

que passam, feito as brisas, sempre amenas,

como se fossem sonhos, ilusão.

Edir Pina de Barros

*FLORES DE LAVANDA*

O lavandário viça em cor e festa,

lilás e azul congraçam-se no prado.

Passou o inverno seco e desolado,

a terra pulsa, em cio, e assim atesta.

Lumes de aurora, raios sem aresta,

beijam as tênues flores com cuidado,

a brisa espalha o aroma adocicado,

a natureza vibra em sua gesta.

É primavera, viça o lavandário

e estende-se na vista qual sacrário

de azuis desejos, íntimos, lilases.

Há um saber nas flores de lavanda:

é a existência efêmera guirlanda,

e um sonho nasce e morre dentre as fases.

Geisa Alves

*A ORQUÍDEA*

A orquídea, todos sabem, vem da mata,

enfloresce, enobrece a primavera,

traz perfume, revela a forma inata

e fulgor que reduz qualquer espera.

No orquidário, reluz assim: cascata

de nuances que até se faz quimera,

seu labelo enfeitiça, até rebata

a graça de outra flor. Também pudera!

Seu cultivo é sensível, mas compensa

todo esforço e desvelo dispensado,

no trato regular, requer pendor.

Suas pétalas trazem cor intensa,

as sépalas se fecham com cuidado

e a natureza exibe um esplendor.

Basilina Pereira

*A MARGARIDA *

Chegou a primavera bem faceira,

trazendo em sua mão uma batuta

que orquestra em vários tons a sementeira,

aquarelando o chão de forma astuta.

Chegou a primavera… a ação primeira

foi mapear a terra e, resoluta,

define cada cor, pondo em fileira

as flores que, com zelo e amor, recruta…

São rosas, cravos, lírios, em cortejo,

a adocicar-me a alma, quando vejo…

Mas há, no centro, especial destaque

à flor que, ingênua e bela, ganha claque

em fervoroso aplauso pela vida

da angelical e terna MARGARIDA!

Elvira Drummond

*DIVA MARGARIDA *

Nesta manhã, repleta de alegria,

nasce o arrebol em nébulas de flores,

atapetando o chão com vivas cores

e o meu olhar atento se extasia!

Em gratidão, os pássaros tenores

expressam, com vigor, a sinfonia

e exaltam a emoção do grande dia!...

No arroubo, bailam gráceis beija-flores!

É primavera... e a natureza veste

traje a rigor, em múltiplos florais,

almiscarando a abóbada celeste!

Porém exalto a minha preferida,

criada sob os moldes divinais,

flor majestosa, a diva, margarida!

Aila Brito

*NÃO OUSARIA LHES FAZER CIÚME*

Eis que chega sorrindo a Primavera,

Trazendo nos seus braços lindas flores.

Ficamos todo o inverno à sua espera,

Ansiosos por perfumes e por cores.

Não vou citar seus nomes, meus senhores,

Não tenho preferência nessa esfera,

Todas elas aplacam minhas dores,

Eu vejo em cada flor uma quimera.

Azuis, vermelhas, brancas, amarelas...

E até aquelas poucas, espinhosas,

Por conta da beleza e do perfume.

Amo todas as flores, todas elas,

São todas tão bonitas, tão charmosas!

Não ousaria lhes fazer ciúme.

Raymundo Salles

*JASMIM*

Está em mim, tornou-se costumeiro,

ao vir a primavera, ser levado,

por sopros de lembranças, ao primeiro

dos meus primeiros anos de casado.

Revejo o jasmineiro e sinto o cheiro

suave de jasmim que, de bom grado,

inalávamos nós o dia inteiro,

na casa, até com tudo já fechado...

O cheiro de jasmim, como assevera

a voz da mente, foi que nos fez ver

as tardes e manhãs de primavera

mais lindas, tal qual já nos tinha feito

sentir, à noite, muito mais prazer

nos momentos de amor em nosso leito.

Kleber Lago

*DOIS GIRASSÓIS*

Alegre sol, ardente, ao meio-dia

pediu que a brisa mansa fosse à tarde

dar seu convite à lua; quem diria!

Houve depois do eclipse um certo alarde.

-

Ficaram nus no escuro? –A voz dizia!

O velho tema trouxe o fogo que arde;

a borboleta azul compôs magia...

Somente a sombra quis papel covarde.

-

Casal perfeito, forte união traduz;

o sol e a lua mostram para a terra,

amor discreto, tudo à média luz.

-

Dois GIRASSÓIS unidos! Quanto encanto!

Na primavera, o olhar sublime encerra.

O tempo passa e o vento traz seu canto.

Sílvia Araújo Motta

*A ROSA*

Fico sempre na espera delirante

da augusta primavera em minha sina,

do eterno renascer que nos garante

as majestosas flores na colina!

Fico sempre na espera a todo instante,

e ressurge a estação que me fascina,

em seguida, rutila um diamante:

a flor que julgo ser a mais divina!

A rosa, bem no meio do jardim,

tem a sedosidade do cetim,

possui um porte egrégio de rainha.

A rosa, baluarte da poesia,

propaga a inspiração na noite fria,

declina a solidão que se avizinha.

Janete Sales

*A ROSA DO DESERTO*

Quem dera se eu tivesse um coração

Que fosse feito a Rosa do Deserto,

Que emana formosura a céu aberto,

Na sua exuberante floração.

Quem dera se eu tivesse a proteção

Que tem seu sangue em seiva recoberto

Por caule resistente que, decerto,

Suporta gigantesca sequidão.

Assim meu coração palpitaria

Com toda a fortaleza dessa rosa

E por qualquer deserto eu passaria.

Por onde quer que eu fosse, espalharia,

Também sua beleza graciosa,

E rosa no deserto então seria!

Luciano Dídimo

*A FLOR DO HIBISCO*

Um pé de hibisco enfeita o meu jardim

e, ao contrário de muitas outras flores,

feito o cravo, a tulipa ou o jasmim,

o hibisco não conserva suas cores

por um longo período e chega ao fim,

logo após exibir os seus pendores

por poucas horas, na impressão ruim

que a morte sempre causa, em extertores.

Pobre hibisco! É o retrato mais fiel

que morrer jovem pode ser cruel,

mas nos ensina a sábia Natureza

que há seres que se vão precocemente

e partem, ao viver intensamente,

deixando em nós um rastro de beleza.

Arlindo Tadeu Hagen

*LÍRIOS DO CAMPO*

É primavera, os lírios rebentaram

enchendo as pradarias de ternura,

montes e vales vestem com brandura

as mais diversas cores que os forraram.

Ao espalhar, a brisa, tal doçura,

diversos colibris nidificaram,

abelhas coloridas despertaram

buscando mel em tempo de fartura.

Canários, bem-te-vis e os sabiás

chegam à tarde aos pés de manacás

num grande festival de melodias...

E a Terra azul, aos olhos mais distantes,

mostra, orgulhosa, o quão exuberantes

nascem de sua entranha as suas crias.

Edy Soares

*AS ONZE-HORAS*

Relembro os meus bons tempos de criança,

das flores que marcaram o meu ser,

parece até que fiz uma aliança

que me assegura eterno reviver.

As Onze-Horas... Que múltipla lembrança!

Apreciá-las só me traz prazer,

e em mim habita cálida esperança,

de em cada primavera renascer.

São delicadas, frágeis e tão belas,

vermelhas, rosas, brancas, amarelas...

Exibem muita luz em cada cor!

Florescem facilmente nos quintais,

bem-vindas são e nunca são demais,

precisam de água, sol e muito amor!

Marlene Reis

*VITÓRIA-RÉGIA*

No seio da Amazônia Brasileira,

flutua a maravilha divinal,

atravessando o denso matagal

que a natureza adorna, bordadeira.

O anel virente toma o vão da esteira

formada na floresta, em seu canal,

trazendo à tona o cântico ancestral

e a Lenda de Naiá, garota arteira.

A primavera chega e se mistura

à história desta jovem e à estratégia

da lua frente ao seu profundo amor.

A sedução, cantada na cultura,

resplende na gentil vitória-régia,

a nossa festejada estrela e flor.

Jerson Brito

*DAMAS*

Ó tu que dormes quando a aurora avança

na solidão silente que te olvida,

de quantos verdes ais se veste a vida

desnuda na pureza de criança?!

À luz do sol, tu sonhas esquecida...

mas findo o dia e pálida a esperança,

emergirás do breu. E os céus alcança,

arrebatada, a morte... eis tua lida...

Os homens se embaraçam, já sem lume,

a mente estropiada, à dor do açoite,

no beijo do arco-íris que te assume...

Devolve o sopro, ó flor, a quem se afoite

em mendigar a graça em teu perfume...

pois luminosa és tu, dama da noite!

Luciana Nobre

*AMOR-PERFEITO*

O que me diz ao pé do ouvido o vento?

O que chega dos campos em rumores?

- É findado esse instante de lamento.

São tempos mais amenos, multicores.

 

Lançam-se os siriris ao firmamento,

Arautos da estação das belas flores.

Dos plácidos jardins, o encantamento,

Dos profícuos quintais, frugais sabores.

 

Anuncia-se a régia primavera,

Florir que a natureza tanto esmera

Pelos férteis vergéis a pleno efeito.

 

Nessa instância que tudo assim prospera,

Florescente candura reverbera

Pela sedosa tez do Amor-Perfeito.

 

Paulino Lima

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 31/10/2022
Reeditado em 22/12/2022
Código do texto: T7640084
Classificação de conteúdo: seguro
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