TRILHA DE SONETOS LXXX- FINADOS
*A CHAMA*
Estava lá, deitado sob as flores,
E, na moldura, a meiga face havia,
Isenta de expressão e de alegria
Chocando muitos com as próprias dores...
Na sala, o som de atroz melancolia
Crescia com as lágrimas de amores,
Os choros compulsivos, gritadores,
Venciam o passado que eu movia...
A cena reuniu o amargo e o doce,
O sofrimento uniu como se fosse
Uma corrente de ternura forte,
Na solidariedade do martírio,
Crescente na plangência e no delírio,
Quando se apaga a chama com a morte!
Ricardo Camacho
*FLORES DE LAVANDA*
Eu tento não chorar a ausência sua
e sei que pouco a pouco a dor se abranda...
Qual sol que esquenta e queima a pele nua
e aos poucos, vira sombra na varanda...
Por entre as tristes flores de lavanda,
insone, andei... Apenas eu e a lua;
rendi-me às dores que o destino manda
e a paz, de novo, aos poucos se insinua.
Ainda bem que o choro, ao ser contido,
apascentou-me o coração ferido
nesta saudade que hoje, em mim, renasce
trazendo sempre seu sorriso largo...
e assim me esquivo do recordo amargo,
do beijo frio que lhe dei na face...
Edy Soares
*AMARGOR*
Silenciosamente e em dor tamanha
eu vi a morte em teu exangue rosto.
O negro véu daquele dia posto
ainda cobre o céu que me acompanha.
Agora vivo sempre em tarde estranha,
de frio intenso, chuva e sol deposto;
as horas, todas, têm o amargo gosto
do triste instante em sua atroz façanha.
A morte, companheira e irmã da vida,
nasce e revive, farta e desmedida,
nas sombras da saudade que me abraça.
Meu coração tornou-se funda taça
de onde transborda o fel da tua ausência,
impiedosamente e sem clemência.
Geisa Alves
*A MORTE DA MORTE*
Bem sei que sua sombra sorrateira
se achega cravejada em dor nefasta...
Se bate à minha porta, da soleira,
recebo-lhe dizendo: _ O amor me basta!
Altiva, lhe direi que a vida inteira
compartilhei afeto (a lista é vasta...).
Portei-me tal e qual a bordadeira:
do zelo, em cada ponto, não se afasta.
Se a morte, impetuosa, mostra a foice,
meu riso enternecido faz-se coice,
ferindo-a com o amor que lhe arrefece...
Meu ciclo de convívio está blindado,
que a trilha afetuosa é um cadeado,
cujo segredo a morte desconhece...
Elvira Drummond
*SAUDADE ETERNA*
Meus dias se resumem na saudade!...
Sem pai, sem mãe e um coração ferido,
sem rumo, sem amparo, sem sentido,
apenas o desgosto da orfandade.
Lacuna que me fere a intimidade
do sentimento, em chaga, tão dorido,
causando-me o suplício e,no gemido,
a força da brutal fatalidade.
À noite, no silêncio, sem carinho,
reflito a dor e choro bem baixinho!...
Mas permaneço firme na esperança
que um dia lá no céu, no reencontro,
felizes (esquecendo o desencontro),
celebraremos com a mor festança!
Aila Brito
*A SOLIDÃO DA MORTE*
Tantos se foram, mesmo assim a vida
prossegue em cada canto deste mundo,
só de pensar, prossigo entristecida,
e, na saudade intensa, eu me aprofundo.
Tantos se foram e ninguém duvida
de um novo adeus no próximo segundo...
reabre-se, portanto, a atroz ferida,
a nos impor um dissabor profundo!
Nesta manhã, o vento frio impera
e arria a floração da primavera,
parece que antecipa a dor da morte!
Nesta manhã, o céu está tristonho,
um grande amigo se afastou do sonho,
e agora a solidão me abraça forte...
Janete Sales Dany
*CÉU ESTRELADO*
São tantas belas vidas que findaram,
Porém deixaram luz em nosso escuro.
Saudade assim gigante, nem mensuro,
As ondas do passado não levaram.
Ficaram os exemplos que eu costuro,
Retalhos desse amor que nos marcaram,
E que por tantas vezes nos beijaram.
Talvez nos encontremos no futuro...
A morte com certeza nos reparte
Em dores muitas vezes incontidas,
Deixando o nosso peito consternado.
Uma pessoa amada, quando parte,
Cintila sua vida em nossas vidas,
Deixando o nosso céu mais estrelado!
Luciano Dídimo
*TULIPA NEGRA*
Os dias passam dando a falsa ideia
De que a tormenta em breve se dissipa...
E que o melhoramento da tulipa
Trará, de volta, o amor de Dulcineia.
Embora sendo autêntica plebeia
Do rol das belas sempre participa...
Seu grego porte a todos antecipa
A sensualidade de Frineia.
Reinando nos confins de Juazeiro,
A deusa, de feição escandinava,
Nutre por mim apego verdadeiro...
Mas nossos elos, hoje, estão quebrados,
Pois o coveiro a cova dela cava
No entardecer do Dia de Finados.
José Rodrigues Filho
*VERSOS FÚNEBRES*
Na lápide de alvura angelical,
mais uma vez se curva aos céus e clama
a infinda dor da pena capital
ao ver o fruto naufragar na lama.
Por sobre o ramalhete escultural,
a lágrima materna se derrama
e o pó retorna à forma natural
e faz do sofrimento a sua cama.
O pranto faz a prece desaguar
no leito da esperança singular,
iluminando as noites mais trevosas;
e o cemitério abriga a nostalgia
daquela que jamais pensou um dia
em capinar, do seu jardim, as rosas.
Adilson Costa