"Que os mortos tenham direito de votar"
Vladimir Safatle
Voto de pesar
O morto ainda vive a pandemia
No seu caixão lacrado. Sem parente
Pra dividir a dor, que já não sente,
Ou mitigar a dor, quando doía.
O morto, que morreu à revelia,
Sem direito a lutar por sua vida,
E deixou de herança a ferida
E a cova medida que o cabia.
Tem direito a ter voz, mesmo calado,
Como parte do voto sepultado
Pela imunidade de rebanho.
Embora uma metáfora tardia,
Sufraguem, ao sabor da poesia,
O voto de pesar que acompanho.