TRILHA DE SONETOS LXXIX- DIÁLOGO COM A PINTURA “GUERNICA - 1937", de Pablo Picasso

 

*DESTROÇOS…*

 

A guerra atroz, cruel, sanguinolenta,

desfaz o chão com lâmina dramática

que varre a luz que encanta e que acalenta,

roubando de seu povo ação e tática.

 

As cores vivas cessam… não se tenta

sequer recuperá-las, tão apática

é a visão que, as ruas, acinzenta

e torna a cena hostil monocromática…

 

O mundo está desfeito em cada traço

que dá vazão à tela de Picasso,

e o sonho rabiscado cai por terra…

 

Em meio à cor sombria e bem nefasta,

a vela da esperança o mal afasta.

(Quem sabe o mundo aprende e evita a guerra...).

 

Elvira Drummond

 

 

*MOSAICO DE PICASSO*

 

Retalhos caricatos da pintura,

Impactam os olhares encantados,

Fitando os personagens dizimados

Na simultaneidade da mistura.

 

As marcas, nessa artística feitura,

Reúnem corações emocionados

E os rostos comovidos, já molhados,

Externam entender a desventura.

 

As faces, no mosaico verdadeiro,

Revelam o suspiro derradeiro

À sombra da existência, olhando a terra...

 

E o mundo remunera o bom coveiro

Que, desde sempre, enterra o mundo inteiro...

"Guernica", de Picasso, chora a guerra!

 

Ricardo Camacho

 

 

*GUERNICA - PABLO PICASSO*

 

A tela monocrômica recria

as fotos do jornal, no seu recorte,

a guerra da Guernica - Basca, ao norte...

A força bruta e o grito que se ouvia...

 

Denota o sofrimento que afligia

aquela mãe ferida, sem suporte,

no colo o seu bebê entregue à morte...

E toda a crueldade que assistia:

 

Pessoas decepadas, sem visão,

Entre gemidos, urros, bombardeios,

E os sonhos derramados pelo chão...

 

Reflito a luz, central, alumiando...

"Picasso, em sua fé e em seus anseios

Aos céus, a sua Pátria destinando"!

 

Aila Brito

 

 

*A BOMBA*

 

Jamais será possível entender

Por qual razão não há discernimento,

Fazendo que haja ação em detrimento

Do mundo em que haveremos de viver.

 

O desamor pincela um tom cinzento

Nos corações sedentos de poder

E faz, covardemente, se irromper

O pranto, a dor, a morte e o sofrimento.

 

A bomba não será jamais proeza

De tantos cobiçosos invasores

Que a jogam sem noção e com frieza.

 

A bomba, em nós, detona mil horrores,

Destrói a humanidade e a natureza.

Na guerra não existem vencedores!

 

Luciano Dídimo

 

 

*INFÂMIA*

 

O preto, o branco, o cinza e tons de anil

retratam o cenário e as tantas dores:

a guerra em seus conceitos predadores

e a clara insensatez de um plano vil.

 

Nas mãos da mãe, um filho em estertores,

um ser ao chão em súplica servil,

corpos em chamas, caos, feridas mil...

Sobeja a morte, faltam vencedores...

 

Se alguma luz rebrilha sobre a cena,

é que a esperança ainda insiste e acena,

malgrado os despropósitos nefastos.

 

Que seja, então, o sol do meio-dia,

veraz fulgor na senda mais sombria,

vencendo a guerra e seus infames rastos!

 

Geisa Alves

 

 

*GUERNICA*

 

Picasso, ao deparar com um conflito,

fez uma tela na intenção da paz,

nela constato o pânico e um maldito

tempo de dor em que a quietude jaz.

 

Há um cavalo sôfrego e incapaz,

de boca aberta a retumbar um grito;

cena em que toda chance se desfaz,

pois um confronto finda o que é bendito!

 

Há uns humanos num pavor medonho,

nas labaredas presos sem saída,

num horizonte incerto sem um sonho.

 

Esse cenário atesta o mal da guerra,

instiga que é vital amar a vida,

e sendo o oposto a pretensão se encerra.

 

Janete Sales Dany

 

 

*LOUCOS NO COMANDO*

 

Somente a poesia metafórica

Para explicar nuances do cubismo

Que põe nas tintas o atro do fascismo

Em tela, surreal, fantasmagórica.

 

O bombardeio... imagem vil, pictórica,

Demonstra o horror da guerra e o terrorismo

Fanal, impiedoso do nazismo,

Que deu origem a essa cena histórica.

 

Pavor e dor, nas faces registrados;

Pessoas e animais exterminados...

Guernica mostra toda a insanidade

 

Humana, em não manter, na vida, a paz.

Malgrado o alerta, cinza e perspicaz,

Há loucos liderando a humanidade.

 

José Rodrigues Filho

 

 

*FOGO CRUZADO*

 

Se o brilho do poder, incomplacente,

ofusca a sensatez do ser humano,

promove o sentimento mais tirano

que pode acometer a sua mente.

 

Tomado pelo impulso soberano

que nutre a guerra e torna indiferente

a sua mão pesada, o combatente

entrega ao povo o fel do desengano.

 

Em nome do interesse pouco nobre,

o sangue da tristura jorra e cobre

os lares inocentes de agonia.

 

Perante a escuridade da contenda,

é necessário mesmo que se acenda

o lume da esperança todo dia.

 

Jerson Brito

 

 

*CAMPO MINADO*

 

Em busca de conquistas ilusórias,

mais uma vez caminha a humanidade,

perdendo pouco a pouco a identidade

no campo de batalhas vexatórias.

 

Na busca das mais falsas das vitórias,

ao sepultar a sua liberdade,

prossegue pelas trevas da maldade,

tombando por inúteis trajetórias.

 

A vestimenta muda a sua sorte,

ao lado do idioma e o nascimento,

no tênue fio em meio à vida e à morte.

 

A guerra sempre vai nos demonstrar,

no seu mais desprezível testamento,

que encontra no egoísmo o eterno lar.

 

Adilson Costa