SONETO ENRUGADO
Conta os dias, é o fim que se aproxima
E isso será tão bom ou ruim que dói
Lembrar seu luto prorrogado, o clima
Desse deixar de ser o que não foi...
É tarde em tudo e o sol que a desanima
É cúmplice dum bobo, um verme rói
As vísceras do tempo que lhe exprima
O que desdiz essa expressão de boi.
Conta, no entanto, os dias que restando
Serão a esmola, o brinde, o dom e a pena
– é o fim! Celebra agora o como e o quando.
Se o que virá não vale a nova ruga,
A derradeira, a sorte é madre obscena,
Despreza as mesmas lágrimas que enxuga...
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