EU OUTRA VEZ
ouça minha voz por detrás do escudo do teu mundo
sou eu outra vez, vestido de modo que me reconheça
ouça o que eu digo claramente num idioma moribundo
sou eu outra vez, com a diadema de plástico sobre a cabeça
ouça o batuque de minhas unhas na tua porta lustrada
sou eu outra vez, a limpar os pés no teu capacho imaculado
ouça meu sussurro no meio da noite cortando a vizinhança calada
sou eu outra vez, não como antes, mas agora eu ao quadrado
como cicatriz que ainda dói debaixo da pele
a ferida disfarçada
o hematoma maquiado
como corpo que não tem quem o vele
a mancha mal apagada
o leite derramado