MENINA-SARACURA (*)
Menina-saracura, bem te quero
para afago só meu, sonho real.
Devo olvidar o tal de lero-lero,
sua vida tão louca. Não faz mal.
Menina-saracura, bem te quero,
é sina. Com o primo Chico eu brigue.
Só sei que meu amor por ela é vero,
Cupido, à bel menina então me ligue!
Quero a doce menina. Mais que espero,
por ser premente. Enfim, não desvaneça
de mui penar, eu, pássaro-metade.
Menina-saracura, bem te quero...
Longe não vá, nem sua falta teça
o abominoso manto da saudade!
(*) Soneto heróico, tônicas na 6.ª (sexta) e 10.ª (décima) sílabas.
(*) A menina-saracura, chamada Ana Leonor, de fato morou nos anos 66/67 em Maravilhas, MG.
O primo Chico denominou-a "saracura", porque feito a ave, ela silenciava-se e fugia de todos.
Como uma saracura de verdade, ouvia-se seu pequeno canto ao alvorecer e anoitecer...
Afonso de Castro Gonçalves
Maravilhas - Flor das Gerais
Academia Brasileira de Letras
e Artes Minimalistas (ABLAM)