DEBANDADA (2)
(Inspirado numa postagem do Fórum do Soneto)
Pobres nordestinos em debandada.
Nunca foi boa a vida de antes,
Pior agora, que são retirantes,
E só lhes resta a poeira da estrada.
Deixam o que tinham, ou seja, nada.
Ossos à mostra, pontas perfurantes,
Encaram o destino, cambaleantes.
Como apoio, o cabo da enxada,
A cujo toque a mão se acostumou.
De tão juntos, a ele se amoldou,
Como fossem uma coisa só.
E do alto, lhes vem mais um castigo:
Sobre o seu corpo sem nenhum abrigo,
O Sol inclemente queima sem dó.
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O amigo Herculano Alencar comparece com esta bela interação.
EMIGRANTE
E lá se vai o pobre emigrante,
Perdido nas veredas do destino:
Um jegue, um cachorro, um menino...
Uma mulher um pouco mais adiante.
Um lago de suor, o sol a pino...
Um pranto a consolar o pensamento;
Um soluço que foge com o vento,
Pra bem longe do solo nordestino.
E lá se vai, levando a esperança
De encontrar, por onde a vista alcança,
Onde possa encostar a sua fé.
E quando a vista, enfim, se emaranha,
Enxerga, à distância, uma montanha,
E roga que ela vá a Maomé.
abração amigo Jota