No túmulo de um suicida
“Foi triste, muito triste, amigo, a tua sorte –
Mais triste do que a minha, e mal-aventurada.
Mas tu inda alcançaste alguma coisa: a morte,
E há tantos como eu que não alcançam nada…”
(MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO)
“The sickness, the nausea,
The pitiless pain
Have ceased, with the fever
That maddened my brain –
With the fever called ‘Living’
That burned in my brain.”
(EDGAR ALLAN POE)
É triste, sim – mas que fazer? É a verdade:
Sempre os bons nos deixam prematuramente
Enquanto o Mal perdura, perpetuamente;
Mas… que fazer? Assim é a humanidade.
É triste! Bem sei – mas que fazer? A crueldade
Do Homem é tão bestial quanto mordente –
Mas te acalma, e dorme, tranquilamente,
Pois estás junto a Deus, e Deus é bondade.
Estrela por tua própria luz consumida,
Dorme em paz! Oro para que alcançaste
Seja o que for que lhe haja faltado em vida.
Dorme… Da febre “Viver” tu te curaste –
E eu, covarde até para ser um suicida,
Quantas vezes não pensei no que pensaste…