Impressões da Noite
Não me perco, eu me encontro, doce sombra,
No ermo destas ruas orvalhadas,
O eco dos meus passos nas calçadas
Até o ser mais misterioso assombra.
A luz do dia, que tanto me ensombra,
Demore a vir na vermelha alvorada,
Que a alta noite volúpica e gelada
Me acolhe com os zelos de uma alfombra.
Demore um pouco mais do dia a luz,
Não quero sóis, paisagens, céus azuis,
Que tudo ao desespero me convida;
Que fique a escuridão, pois sinto, ó sorte,
No calor do dia a friez da morte,
Na friez da noite o calor da vida.