TRILHA DE SONETOS LXXV- DIÁRIO DE DOMINGO
*DOMINGO*
Ouvindo a turba, à madrugada acesa
Que, logo, deita na manhã tranquila
Com um odor de azeda framboesa
Que exala do álcool junto à clorofila...
Durante o matinal café, à mesa,
Espio a claridade que cintila
Beijando a carioca natureza,
Desde o oceano até o chão de argila.
Os passos dos rachados calcanhares,
Alguns vermelhos globos oculares,
No dia do descanso original...
A missa, o culto, o futebol, os bares
E os múltiplos sinais particulares
São vistos no esplendor dominical.
Ricardo Camacho
*DOMINGO*
Escuto, ao longe, o badalar do sino
chamando o "bom cristão" à catedral,
numa manhã ditosa, magistral,
ao compromisso salutar divino!
Seleciono um traje belo, fino,
e vou à missa, no ato semanal,
buscar a paz e a cura monacal
com a alegria pura de um menino!
Neste domingo especial de luz
Durante a santa missa o bom Jesus
renasce em mim, na cândida expressão,
Enchendo-me do amor que me conduz
pelas veredas que em florais propus
a alimentar, na chama, o coração.
Aila Brito
*DOMINGO*
O sol amanheceu esparramado,
Cobrindo o meu domingo de calor.
Brotou no peito um hino de louvor
Por tudo da semana que há passado.
O cálice com vinho transbordado
Demonstra para mim o imenso Amor.
Por graça do Senhor, o meu pastor,
No verde pasto, nada me há faltado.
O dia de domingo tem sentido,
É o dia do descanso merecido,
Bom para refletir e espairecer.
É o dia de também agradecer
A Deus por toda a vida que Ele traz,
Pedindo para todos muita paz!
Luciano Dídimo
*DOMINGO II*
Domingo assaz festivo e prazeroso,
dia de espairecer, curtir a praia
ver os bordados quando o mar se espraia;
de degustar o almoço saboroso...
tomar sorvete, de açaí, gostoso
enquanto no horizonte o sol desmaia...
Cair na boa farra, "na gandaia",
e aproveitar, da mocidade, o gozo.
Sem esquecer da fé e da oração,
da prática zelosa de um cristão,
e agradecer ao nosso Deus fiel,
pois persistir na mesma distração
do olhar embaraçoso com o irmão,
é merecer, no além, o amargo fel.
Aila Brito
*DOMINGO*
A chuva fina escorre na calçada,
entendo que deseja me lembrar
que já chorei demais, estou cansada,
foi muito pranto... tanto quanto o mar!
Neste domingo, a natureza brada,
o vento frio insiste em me beijar
e atiça a nostalgia, tão ousada,
que faz morada até no meu olhar.
Saudade das manhãs dominicais,
daquele amor que não existe mais,
porém ainda invade os sonhos meus.
Tudo na vida um dia diz adeus,
e, estar assim, eu sei que não devia,
pois é domingo, tempo de alegria!
Janete Sales Dany
*DOMINGO*
Passa o domingo, a noite vem chegando
e eu fico aqui, em busca de resposta.
O dia foi tranquilo, calmo e brando,
mas insta em mim vazio que me arrosta.
Insisto a perguntar-me desde quando
perdi, da vida, a mágica proposta.
Parece, o mundo, insano e sem comando,
nada me agrada e tudo me desgosta.
Domingo, um dia farto de saudade,
de falta que eu nem sei dizer do quê...
Seria de mim mesma em outra idade?
Talvez... a noite cai e não apuro,
quem sabe no amanhã que se antevê...
Então descanso e esqueço o meu apuro.
Geisa Alves
*DOMINGO*
Domingo, sempre, foi um ledo dia,
Entre os demais, porque me libertava
Da rotineira faina que me dava
A sensação que a vida se perdia.
Pela manhã, gozando a regalia,
Empertigado, na urbe desfilava...
Sonhando ser alguém que projetava
Rico futuro, pois assim me via.
Hoje o domingo não difere, tanto,
Perdendo, com o tempo, seu encanto,
Porém me deu novissima alegria:
O dom de combinar a rima e o verso.
Mantendo meu conceito de universo
Dedico este domingo à poesia.
José Rodrigues Filho.
*DOMINGO*
Diante da TV, maravilhado,
para aplaudir Chacrinha e Sílvio Santos,
a Jovem Guarda com os seus encantos
curtia o meu domingo afortunado.
Bailava o Fitipaldi no traçado
das curvas gloriosas dos recantos,
em que brigavam palmo a palmo tantos
pilotos geniais do meu passado.
Mequinho conseguia em seu xadrez
um xeque-mate em toda a estupidez
dos males de um complexo vira-lata.
Nos palcos dos gramados, aplaudia
um futebol repleto de magia
num romantismo ingênuo e sem bravata...
Adilson Costa
*DOMINGO*
DOMINGO PEDE paz e um bom CACHIMBO…
assim nos diz a esplêndida parlenda;
memórias de uma infância que carimbo
abrindo, no passado, doce fenda.
A fresta que me arrasta até o limbo,
em que vivia o mito, o conto, a lenda
e os cantos que recordo e, aqui, marimbo
são mimos que jamais verão à venda.
Domingo oferta o tempo do resgate:
de volta a mesa cheia, em terno embate,
família reunida a tarde inteira…
Domingo — recomeço da semana —
floresce a fé que reina soberana
na espera do amanhã: segunda-feira…
Elvira Drummond