TRILHA DE SONETOS LXXIV– DIÁLOGO COM A PINTURA “DIA DE VERÃO - 1926", de Georgina de Albuquerque

 

*ESTIO PRIMAVERIL*

 

Embora insista a luz primaveril

percebe-se o verão que se anuncia,

e envolta pela brisa luzidia

a dama exibe a paz em seu perfil.

 

Abre a cortina da alma à luz do dia,

à rubra flor, ao bem de encantos mil;

e uma esperança quase pueril

vibra na voz de canto que se amplia.

 

Se seu vestido tem matiz vermelho,

a mesma cor reveste o seu intento

ainda que haja sombra em seu espelho.

 

Uma certeza inata reverbera:

o sol cintila mesmo em céu cinzento

e faz-se o estio, às vezes, primavera!

 

Geisa Alves

 

 

*NA TARDE DE VERÃO*

 

A tarde de verão ressalta o belo:

no romantismo breve e transparente,

da graciosa dama sorridente,

no traço despojado e tão singelo!

 

Cingida no contorno do amarelo

que enlaça a silhueta ternamente,

o sol que beija a veste em tom ardente,

envolve a tal mulher em seu anelo!

 

Ao fundo a poesia em tons florais,

no porte arbóreo, medra angelical

e nos acolhe à sombra dos sedais

 

com toda a calmaria do ornamento,

que faz vibrar no olhar o dom vernal,

toda a magia expressa do momento!

 

Aila Brito

 

 

*NA VARANDA*

 

A luz predominante na varanda

Anima a dama alheia, pensativa,

Na vibração que a claridade manda

Enquanto canta a natureza viva.

 

O plácido recanto em hora branda,

Reflete o paraíso que motiva

E gera a paz que a mão de Deus comanda,

Num veio de resposta positiva.

 

Volvida em culminância de energia,

Na infinda calidez de um lindo dia,

Aceita-se abraçada pelas flores,

 

Em meio à natural monotonia,

Num gozo indescritível que se alia

À chama interior que expulsa as dores!

 

Ricardo Camacho

 

 

*RECORDOS PUERIS*

 

As tardes de verão do meu recanto

e a musa desses sonhos juvenis

enchem ainda os versos meus, e tanto...

que encantam meus recordos pueris.

 

Lembro o luar, o alpendre e todo encanto

do meu terreiro em tons primaveris

e o tamborete de onde ouvia o canto

dos rouxinóis, pardais e bem-te-vis...

 

Lembro a varanda estreita da casinha

e um cortinado rosa, que a vizinha

à espreita namorava-me, escondida...

 

E lembro os meus primeiros madrigais,

olhando um quadro exposto nos jornais...

São tintas retratando a minha vida!...

 

Edy Soares

 

 

*DAMA VIRTUOSA II*

 

A dama virtuosa, na pintura,

com seu vermelho traje esvoaçante,

descansa a mão, em pose, na cintura

e encanta com seu porte fascinante!

 

O sol que incide em transparência pura

espelha na cortina o seu semblante

dobrando em graça e luz, o que se apura,

na tarde de verão, assaz sonante!

 

O verde magistral da natureza

tal qual alcança a sua realeza

nas colorais tinturas da aquarela

 

trazendo os seus arranjos em florais

e a bela sinfonia dos pardais

nos traços delicados dessa tela!

 

Aila Brito

 

 

*LUZES DA ALVORADA*

 

A dama, na varanda ensolarada,

é bela, igual as flores, puro encanto,

no traje têm as luzes da alvorada,

aquece o coração, eu te garanto!

 

O romantismo está intenso em cada

parte da cena, urdido feito um manto...

Estilo de pintura que me agrada,

alinda com primor qualquer recanto!

 

Lá fora o sol está exuberante,

trama a estação verão sem calmaria,

e esse calor a alcança a todo instante...

 

Passeia em sua tez, sem permissão,

e afaga a tela inteira... é poesia,

nunca encontrei tamanha perfeição!

 

Janete Sales Dany

 

 

*LEVES PINCELADAS*

 

Ao retratar em leves pinceladas,

com toda a imensurável precisão,

a volta triunfante do verão

em verdes tintas, rubras e douradas,

 

cortinas nunca mais serão fechadas

e todas as varandas se abrirão

para abrigar o sol da inspiração

nas mais sublimes linhas já traçadas.

 

Todo o cenário muda de figura

e empresta novas cores à pintura

que a mão do tempo insiste em preservar,

 

nos tronos dos soberbos pedestais,

nas mídias dos arquivos digitais

ou num painel de um simples celular.

 

Adilson Costa

 

 

*DIA DE VERÃO*

 

A silhueta, esbelta e vaporosa,

Retrata a perfeição que não esconde

O traço feminino e corresponde

À flor mulher, vivaz, maravilhosa.

 

Nos meses de verão, a diva airosa,

Elege o seu balcão, lugar por onde

Recebe a brisa, fria, que responde

O seu pedido, em tarde calorosa.

 

Ainda na sacada um cortinado

Que encobre o visitante namorado

Nas horas veniais do frenesi...

 

Paleta iluminada dos amores:

A Georgina dá enfoque às flores

Pondo nas tintas o melhor de si.

 

José Rodrigues Filho.

 

 

*DIA DE VERÃO*

 

Em tarde ensolarada de verão,

O sol abraça em luz a linda jovem,

Enquanto em seu espírito se movem

As vívidas cortinas da emoção.

 

Diante da belíssima visão,

Deseja que esperanças se renovem,

As flores e as folhagens se comovem

E ensaiam para ela uma canção.

 

Os raios se refletem nos cabelos,

Que, presos, lhes desnudam o pescoço,

A luz em sua pele faz desvelos.

 

No tom de seu vestido avermelhado,

Pincela em sua face um rubro esboço,

O dia de verão iluminado!

 

Luciano Dídimo

 

 

*VERÃO…*

 

As cores escaldantes do verão

ressaltam o vibrante céu aberto…

e todos, contemplando a luz, verão

o céu desnudo, airoso… descoberto.

 

A moça, com leveza, leva a mão

ao límpido tecido que, decerto,

descortinando as cores da paixão,

revela as rosas rubras bem de perto.

 

O tom vermelho vivo transparente,

qual a estação, nomeia-se de quente —

calor que a veste leve nos traduz…

 

O sol, de brilho intenso, tudo muda…

e as cores sensuais, na tela muda,

explodem de vigor com sua luz!

 

Elvira Drummond

 

 

*TESOUROS DA AMPLIDÃO*

 

Destaque da paleta celestina,

o lume reina sobre a passarela,

refulge, lança feixes na cortina

e a dança na varanda se revela.

 

O vento, condutor da bailarina,

também afaga o rosto da donzela,

penteia flores, hábil, determina

os traços do tesouro que cinzela.

 

O sopro ameno, o abraço flavescente

permitem que o cenário se alimente

de todo o colorido da amplidão.

 

Imersa em plenitude e galhardia,

a tarde, sedutora, prenuncia

a festa dos prodígios do verão.

 

Jerson Brito