PARTINDO – Eugénio Tavares

Triste, por te deixar, de manhãzinha

Desci ao porto. E logo, asas ao vento,

Fomos singrando, sob um céu cinzento,

Como, num ar de chuva, uma andorinha.

Olhos na Ilha eu vi, amiga minha,

A pouco e pouco, num decrescimento,

Fugir o Lar, perder-se num momento

A montanha em que o nosso amor se aninha.

Nada pergunto; nem quero saber

Aonde vou: se voltarei sequer;

Quanto, em ventura ou lágrimas, me espera

Apenas sei, ó minha Primavera,

Que tu me ficas lagrimosa e triste.

E que sem ti a Luz já não existe.

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Eugénio de Paula Tavares (Vila Nova Sintra, Ilha Brava, 18 de outubro de 1867 — Vila Nova Sintra, 01 de junho de 1930), foi um jornalista, escritor e poeta cabo-verdiano.

🇨🇻

Eugénio Tavares foi a figura cimeira da vida cultural, política e social de Cabo Verde entre 1890 e 1930. Durante essas 3 décadas, ele dominou em todas as áreas a cultura do seu povo tendo sido o seu maior interprete até aos nosso dias. A sua vastissíma obra vai da poesia à música, da retórica à ficção, passando pelos ensaios. Durante a festa da língua portuguesa em Sintra, Corsino Fortes, poeta e antigo embaixador de Cabo Verde em Portugal, intitula-o de "Camões de Cabo Verde" e realça Eugénio Tavares de fazedor de opinião numa enorme dimensão de pensador. Fonte: www.eugeniotavares.org/

 

Devido ao interesse e empenho na divulgação dos problemas locais, nomeadamente, os casos de fome que se registaram em Santiago, Eugénio será repreendido e depois exilado. Segue para os Estados Unidos da América onde funda o primeiro jornal em crioulo (língua cabo-verdiana).