Espera...
Não te despeças, meu amado amigo,
e nem te lances, ávido, à lonjura.
Relembra o doce ardor do beijo antigo,
e a intrepidez da minha boca pura.
Eu sou a tua deusa de candura,
a mística mulher em desabrigo,
presa do teu prazer e tua jura...
Não te despeças... Fica aqui comigo!
Triste jardim, o amor que me ofertaste,
nenhuma rosa em flor, apenas haste
e folha seca e flava pelo chão...
Espera, espera ainda e não te vás
que além de mim o nada encontrarás
e procurar-me, amor, será em vão!
Esse soneto é um diálogo com o soneto de mesmo título de Florbela Espanca.
Do amigo Jacó Filho
ENQUANTO A ESPERAVA
Por sua espera minha alma flutuando,
Moldando expectativa de um dia tê-la.
Ansiedade louca lá dentro queimando,
Adivinhando o bem que me faria vê-la...
Imaginava tudo que só Deus moldara,
E quantos rezaram, pedindo pro além.
Pra pular o tempo que sufoca alguém,
Mas sorria feliz, enquanto a esperava.
A fiz luz dos sonhos durante a espera,
Imaginando música, que em serenata,
Diria que a quero, nas letras sensatas...
Venha linda fada pras nossas esferas,
Trazendo alegria, e risos em cascatas...
Será um presente que as dores afasta...
Do amigo Solano Brum
TUAS PEÇAS
Tu te ensaias saíres dos meus braços,
Buscando peças perdidas pelo chão,
Justificando o tempo e teus cansaços,
Sem que saibas, sequer que horas são?
Sabeis que, lá por fora, na escuridão,
Zérifo frio é tragado pelos mormaços?
Tu hás de me deixar em plena solidão
Sem o teu carinho... Sem o teu regaço!
Logo, as estrelas já não mais brilham;
Que na alvorada, pássaros trilham;
Diga-me que sim... Não tenhas pressas
Que encherei tua boca de doces beijos,
Que saciarei tua vontade; teus desejos
Depois... Podeis vestir as tuas peças!