TRILHA DE SONETOS LXXII – DIÁLOGO COM A PINTURA “LA LISEUSE - 1872", de Claude Monet

*A DAMA*

 

Na tarde ensolarada a bela dama,

sentada sob a sombra, concentrada,

lê com desenvoltura um velho drama

cuja mocinha fora abandonada!

 

Nem capta o aproximar do amor que chama...

Porém a sua pose é registrada

por esse alguém que em seu olhar derrama

o puro encantamento à sua amada!

 

É primavera... e o ornato natural

intensifica a cena e faz pulsar

no peito do mancebo o dom oral

 

que deixa florescer do coração

todo o calor e a jura por estar

apaixonado e a pede em união!

 

Aila Brito

 

 

*SOLITUDE*

 

Gozando de melíflua solitude,

Sentada a dama, as páginas, folheia,

Ao voejar nos versos, toda alheia,

Sorvida pela infinda quietude.

 

A paz que a envolve em doce plenitude,

Espelha o instante de alegria cheia,

Na passibilidade que pompeia,

Com formas alvas e mansuetude.

 

No seio do bucólico cenário,

Encontra o regozijo solitário,

Unindo a natureza e a poesia.

 

Volvida no silêncio mundanário,

Reflete o bem-estar originário

Para a imortalidade desse dia.

 

Ricardo Camacho

 

 

*PRIMAVERA*

 

É primavera e a relva serenada

acolhe, sob a copa da paineira,

toda elegância doce e rotineira

da moça a ler um livro, ensimesmada…

 

O belo e amável da expressão fagueira

e sua veste branca e aveludada,

à sombra da paineira acomodada,

relembram neve ao pé da cachoeira…

 

Tudo é sublime quando o olhar alheio

transforma em poesia e devaneio

a imagem doce, pura e tão serena.

 

Nas hábeis mãos de um gênio da pintura

é transportada a imagem com ternura…

E a tela imortaliza aquela cena!…

 

Edy Soares

 

 

*A LEITORA*

 

Em sonhos, uma cena veio a mim:

Em tempo que parece bem distante,

Sentada na folhagem verdejante,

A linda jovem lia no jardim.

 

De longe, eu contemplava o seu semblante

Atento na leitura sem um fim.

No seu vestido branco de cetim,

As lantejoulas - chuva cintilante.

 

As flores que dançavam com o vento,

Querendo em vão os olhos da leitora,

Adormeciam tristes ao relento.

 

E, de repente, o livro se fechou,

Sumiu a digressão encantadora

E um doce beijo, enfim, me despertou!

 

Luciano Dídimo

 

 

*A LEITORA*

 

Das flores que se vê por toda a tela,

em primazia está a bela dama.

No colorido tênue, de aquarela,

contrasta um forte amor de ardente chama.

 

A sombra da folhagem amarela

desenha no vestido um diagrama,

qual flor-de-luz exposta em passarela…

há viço mais na renda que na grama.

 

A moça vive o encanto do que lê

e enlaça palavrinhas num buquê

composto com as flores de quimera.

 

Há muito o que dizer, em poucos versos;

o livro oferta vários universos...

Qual deles mais viceja a primavera?

 

Elvira Drummond

 

 

*BELEZA ETERNA*

 

É primavera, a tarde está ao meio,

as horas passam lestas e vivazes;

brincam no céu, num rápido volteio,

nuvens ariscas, brancas feito gazes.

 

O sol espreita, em ângulos audazes,

e aviva a cena ao gosto e olhar alheio:

sob o dossel repleto de lilases,

Camille passa o tempo em devaneio...

 

Nas mãos retém o livro preferido,

gotas de luz adornam seu vestido

na vista de onde o belo não se evade...

 

Apenas mais um dia, para a diva,

mas seu amado torna-a sempre viva

na tela destinada à eternidade!

 

Geisa Alves

 

 

*IMPRESSIONISMO*

 

Os trajes invernais, na primavera,

Realçam a expressão da jovem dama

Cujo vestido branco se esparrama

Sobre o relvado verde que prospera.

 

O gorjear das aves reverbera

Na ensolarada tarde que derrama

Raios de luz, por sobre a tenra grama,

Onde um vergel, viçoso, prepondera.

 

Em pose, sob a sombra da figueira,

A senhorita lê de tal maneira

Que não lhe escape a mínima atenção.

 

No seu entorno, esmaecidas flores...

Serão lilases... Brancas... Essas cores?

Ou tudo só depende da impressão?

 

José Rodrigues Filho

 

 

*TARDE PRIMAVERIL*

 

Na tarde de setembro a bela dama,

sentada sobre a relva, concentrada,

lê com desenvoltura um velho drama,

que a faz molhar o rosto emocionada!...

 

Acomodada sobre a fina grama,

espalha a linda veste cravejada

de pedras... a beleza se derrama

por toda a sua face delicada!

 

É tarde... E a primavera, generosa

provê no balouçar o olor da rosa

e a dama empalidece de emoção!

 

De súbito levanta e em cortesia

Agradecida expressa a poesia

Que em seu azul olhar se faz canção!

 

Aila Brito

 

 

*DIAS DE PRIMAVERA*

 

Em majestosa pose, a bela infante

buscava, ensimesmada, a calmaria

da brisa que soprava em sintonia

com a estridente voz desconcertante

 

do pensamento a vislumbrar distante

o mundo encantador da fantasia,

presente nas leituras que fazia,

a dama sob a sombra deslumbrante

 

da velha cerejeira que resiste

ao tempo, mesmo com o dedo em riste,

mas que se rende aos pés do sonhador...

 

Que a primavera multiplique as flores,

nas telas das lembranças multicores,

ornamentando o céu do puro amor...

 

Adilson Costa

 

 

*SAUDOSO VERGEL*

 

A lágrima estuosa a me sorver

Estampa no papel – ao encharcá-lo –

A vasta solidão: amargo entalo.

A relva verde perde o seu poder

 

E o encanto. Sento e leio com regalo,

Pois é o que me resta do viver

Que tínhamos... saudade faz doer.

Nos prados sem você, sozinha, falo.

 

Restam-me o livro seu – o preferido –

O viço do jardim e a primavera,

Lembrando-me do tempo já vivido.

 

Eu não descumprirei o prometido:

Serei a viva espera e quem me dera...

Sonhar conosco em nosso abraço fido.

 

Eufrasio Filho

 

 

*ROTEIRO PEREGRINO*

 

Tomada pela nívea bordadura,

a relva abriga o enleio, a fantasia

da moça que viaja e se extasia,

em busca de emoções e de aventura.

 

A cada impulso, seu olhar fulgura,

o coração exulta e vivencia

a sensação de plena sintonia

perante as maravilhas da leitura.

 

O livro, companheiro de jornada,

conduz a caminhante dedicada

nas curvas do roteiro peregrino.

 

A solidão, apenas aparente,

envolve a cena e leva, ternamente,

aquela sonhadora ao seu destino.

 

Jerson Brito