UMA LEMBRANÇA – Úrsula Garcia
Eu quis levá-la ao cemitério, um dia,
Mas em casa disseram: “Tão criança”
É tão longe!... E tão triste! ... Eu insistia,
Não sabe o que é tristeza, ela, e não cansa!
A manhã é tão linda! O sol radia,
O ar é tão puro, a brisa fresca e mansa...
E um passeio ao campo. Não faria
Mal algum visitar quem lá descansa...
E eu pensava: É melhor ir caminhando,
Com seus pesinhos, rindo, conversando,
Voltar da cor das rosas que levou...
Não foi comigo... Mas lá foi levada
Numa manhã de sol... muda, gelada,
Lívida, inerte... E nunca mais voltou!
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Úrsula Barros de Amorim Garcia (Aracati-CE, 1865 – Recife-PE, 1905) foi uma poetisa, cronista, ensaísta e jornalista brasileira, fez seus estudos no Rio Grande do Norte, aonde acompanhando seu pai, magistrado; foi membro da Liga Feminina do Ceará e, em 1902, juntamente com Amélia Bevilacqua, fundou a Revista Feminina “Lírio”, de prosas e versos; primeira mulher nordestina a fazer jornalismo político, colaborou com diversas publicações do Nordeste; foi descrita por Luiz da Câmara Cascudo como tranquila e doce, mulher que escrevia muito, mas que teve sua produção ignorada.
Diversos artigos de política regional, de sua autoria mas divulgados sem assinatura, eram dados como pertencentes aos homens que costumavam escrever sobre política. Úrsula publicou um único livro: Livro da Bela, uma obra de poemas publicado em 1901.
(É grande a dificuldade em encontrar informações da Úrsula Garcia, até uma simples data de nascimento, já que as mulheres não tinham espaço para se manifestar naquela época e algumas não podiam assinar seus textos ou usavam um pseudônimo masculino. Outras, apesar de escrever em revistas e periódicos, tinham apenas um livro publicado, porque não conseguiam apoio. Há mulheres revolucionárias que criaram escolas mistas ou para mulheres em um tempo onde isso não acontecia. Outras se destacaram lutando contra a escravidão e a opressão feminina).
Não vamos deixar o nome de autoras como esta cair no esquecimento!