Caminhando descalço no fio da navalha
Avisado fui dos perigos do penhasco,
e que a alta altitude faz o ar ser rarefeito,
e que os pulmões afogam dentro do peito,
que o próprio ar agora torna-se carrasco.
Porém julgando-me eu tão digno do feito,
de mim escondi a expectativa do fiasco,
a mera chance de não, já causava-me asco,
mesmo que o caminho íngreme fosse estreito.
Tão cego foi o coração a buscar as alturas,
pois o querer é um sentimento tão propício
de alcançar glórias ou provocar desventuras.
Ciente sempre estive que não haveria armistício,
se não a cura, hematomas, traumas e fraturas;
se não o topo, a morte certa no precipício.