TRILHA DE SONETOS LXIX– DIÁRIO DE QUINTA-FEIRA

*QUINTA-FEIRA II*

 

Às 4:15 acordo e me levanto,

Com esperança para entrar na liça...

De pé, avanço e afasta-se a preguiça

Numa explosão de pombos com espanto.

 

Alguns bocejos teimam, entretanto,

Na tênebra do dia, à luz mortiça,

Elevo a resistência mais castiça

De toda a criação que encobre o pranto.

 

A sucessividade dos segundos

Acorda meus socorros mais profundos

Na ampliação do estado de canseira...

 

Em ruas mortas, rumo em outros mundos

Revendo os semelhantes de olhos fundos

Na véspera real de sexta-feira!

 

Ricardo Camacho

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

Lá vem se aproximando o velho trem,

queimando lenha e chamuscando brilhos

e, em seus vagões, trazendo os andarilhos

que buscam o lugar que lhes convêm!

 

Alegre vem cantando os estribilhos:

piuí... piuí..., café com pão!... Também

soltando silvos de alegria além...

feliz e saltitante sobre os trilhos!

 

Alguém, impaciente, na estação

Aguarda o seu ilustre viandante,

com veste em tons florais e bem faceira!

 

Com lágrimas banhadas na emoção,

de longe vê o amado e eterno amante,

Na madrugada desta quinta-feira!

 

Aila Brito

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

É quinta-feira, já passou o meio

da repetida lida semanal.

Que baste a cada dia o próprio mal

e a nova aurora traga o bem que anseio.

 

É quinta-feira e não passou o anseio

de ver nascer um núpero normal,

de ver nascer, num dia habitual,

uma esperança além de um devaneio.

 

Na quinta-feira o tempo faz-se lesto,

mas sempre existe o instante para um gesto

que anule aquela mágoa corriqueira.

 

Se é repetida a lida da semana,

é repetido o verso e dele emana

fé irrestrita, em plena quinta-feira!

 

Geisa Alves

 

 

*QUINTA-FEIRA II*

 

Um brilho em minha face me desperta!

Salto da cama meio sonolenta...

Lá fora, feiticeiro, o sol esquenta,

expondo a sua renda toda aberta!

 

Dia de rosas", sua essência enxerta

floral labor, no braço que sustenta

qualquer labuta e sapiente enfrenta

sem reclamar, de forma assaz, liberta!

 

Na sua luz divina e mensageira,

dá-nos amostra laboral, certeira,

do compromisso e zelo atemporal.

 

Singularmente, nesta quinta-feira,

o seu calor me aquece por inteira

e me renova o sonho em alto-astral!

 

Aila Brito

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

Acordo quinta-feira na hora certa,

O sol convoca para a caminhada,

Recusa ouvir desculpa esfarrapada,

A minha enrolação foi descoberta.

 

Sem meios de escapar de tal oferta,

Eu findo, conformado, na empreitada,

A culpa é da gordura acumulada

Que, mesmo com dieta, não se acerta.

 

Mas lembro que na quinta, em Fortaleza,

Costuma-se comer uns caranguejos,

Regados com cerveja, que beleza!

 

Então, assim reponho as calorias

E aguardo a sexta-feira com desejos

Que seja recheada de iguarias!

 

Luciano Dídimo

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

É quinta-feira, já beirando o fim…

E tempo de acertar um tal ponteiro:

aquilo que nos falta, vem primeiro,

depois, rascunho um breve boletim.

 

Em meu painel, escrito com nanquim,

exponho tudo… mostro o plano inteiro.

Carrego sempre o olhar alvissareiro

e, havendo grifos, uso a cor carmim…

 

A quinta-feira lembra a eucaristia,

Seu corpo santo, Cristo dividia,

no simbolismo mor da Santa Igreja.

 

O “Corpus Christi” — sólida aliança —

concede à quinta o timbre da esperança,

o verde deste dia em mim viceja!

 

Elvira Drummond

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

Na madrugada, acordo preocupada,

os sonhos se esconderam na neblina,

somente eu sei o quanto estou cansada,

mas nunca renuncio à Luz Divina...

 

Suplico a Deus, pois quero na alvorada

a placidez que acalma toda sina,

porém a escuridão, ilimitada,

surge e sorri com ares de assassina!

 

Faço o sinal da cruz no espelho, agora,

sei que na vida tudo um dia finda,

quem sabe a realidade vai embora.

 

Mais uma quinta-feira, sempre igual,

que encaro a dubiez voraz e, ainda,

eu me controlo, não aceito o mal.

 

Janete Sales Dany

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

Em pleno inverno às vezes acontece

Um dia diferente, limpo, airoso...

E o sol surgindo tênue, mas teimoso,

Na abóbada celeste permanece.

 

Contudo chega a noite que oferece

Seu negro céu de aspecto tedioso.

A bruma encobre o sol, maravilhoso,

E sua refulgente luz fenece.

 

Essas sutis, globais, variações

Ocorrem, envolvendo as estações,

Mostrando a face má da pasmaceira.

 

Primaveris nuanças são bem-vindas...

E tais mudanças, incomuns e lindas,

Aconteceram nesta quinta-feira.

 

José Rodrigues Filho

 

 

*QUINTA-FEIRA*

 

Mais uma quinta-feira se anuncia,

cumprindo mais um ciclo semanal;

e o galo a solfejar no meu quintal

avisa que começa um novo dia.

 

Num gesto displicente e maquinal,

contemplo embevecido a sinfonia

da bela passarada em harmonia

no palco azul de um céu transcendental.

 

Aos poucos volto para a realidade,

no centro conturbado da cidade,

sem perceber que o dia se apequena

 

no ofício prazeroso e singular

de quem jamais ousou interrogar

se a busca do metal valeu a pena.

 

Adilson Costa