Soneto que eu não fiz
Estou fazendo o soneto que eu não fiz,
Muito sombrio como a luz do lusco-fusco.
A inspiração não é aquela que eu quis,
Veio latente, sem o tema que eu busco.
Sigo escrevendo, amiúde, infeliz,
Feito as águas de um mar sem um molusco.
E desprovido de paixões, quão meretriz,
Fico sem brilho no olhar e me ofusco.
Ah, quem me dera se o soneto fosse meu!
Seria eu, viril poeta ou escritor.
Mas, de repente, minha mente percebeu,
Que já não posso mais, sentir tamanha dor.
Saí da luz e embrenhei-me em um breu,
Mas, tenho as letras de um verso a meu favor.