TRILHA DE SONETOS LXVII – DIÁRIO DE QUARTA-FEIRA

 

*QUARTA-FEIRA*

 

O mesmo ritual... e alguém repete

O lídimo Espetáculo da Luta,

No lapso temporal, das 4 às 7,

Aos braços da rotina urbana e bruta!

 

Alguns somente veem na maquete

A azáfama do mundo e a atroz conduta

Do irmão que fere o irmão com canivete,

No Realismo que o destino imputa.

 

É, sempre, só mais uma triste história

Que ocorre de uma forma aleatória

No chão do povo, em plena quarta-feira.

 

E nada muda... tudo está normal...

Suave, na minhoca de metal,

Componho versos pela rota inteira!

 

Ricardo Camacho

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

Acordo quarta-feira feito um rei

Que dorme até cansar de descansar,

Mas lembro que preciso trabalhar,

Pois rico, infelizmente, não fiquei.

 

Levanto, transgredindo a própria lei,

Preciso, como sempre, me apressar.

E o plano do saudável caminhar?

Que pena, novamente não irei.

 

Deparo-me no trânsito infernal,

Confiro as minhas redes sociais,

Demandas do trabalho estão sem jeito.

 

Ajusto aquele verso com defeito,

No rádio, as más notícias são banais,

Mais uma quarta-feira habitual!

 

Luciano Dídimo

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

Às seis, escuto o alarme e me levanto

feliz, por mais um dia em companhia

dos filhos, da família... e pelo encanto

que a vida nos oferta e desafia!

 

Preparo um desjejum, gostoso e tanto!

Escuto alguém chegar e dar bom dia...

Congraço desse afeto sacrossanto,

Com todo o grande amor que me irradia!

 

Revigorada, sigo para a lida

Nesta invulgar manhã de quarta-feira,

Com pés no chão e de cabeça erguida!

 

No mais, seguindo a luz de Deus que alcança

a minha fé ditosa e mensageira,

com paz no coração... por essa andança!

 

Aila Brito

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

É quarta-feira, dia do miolo…

No meio da semana — pontual —

revejo meu roteiro semanal,

no intento de ajustar um passo tolo.

 

E digo a mim, servindo de consolo,

que apago algum passado desigual

e traço novos planos, se o ideal

for refazer tijolo por tijolo…

 

Miolo da semana… o tempo exato

de vislumbrar o atrás, rever, de fato,

se devo prosseguir ou desfazer.

 

Na quarta-feira, sinto um frenesi,

evoco a luz da Estrela de Davi…

Que seu clarão norteie o meu querer!

 

Elvira Drummond

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

A quarta-feira nasce, o sol rebrilha

e aquece, novamente, a tez do povo

que sai às ruas, busca um sonho novo,

nova esperança numa nova trilha.

 

Também arrisco o elã de algum renovo

que amanse minhas ânsias de andarilha,

mas nada muda, a quarta-feira trilha

a mesma solidão em que me movo.

 

E tudo se repete sempre igual,

a mesma sorte, o mesmo ritual

de ver passar a vida em velho rito:

 

Um dia de trabalho e a noite insone

compondo um verso efêmero que abone

a fé no amor, ainda que finito!

 

Geisa Alves

 

 

*QUARTA-FEIRA II*

 

José, rapaz leal, gentil, bisonho...

sonhava ser um jovem "milionário"!...

Foi à loteca do Senhor Genário

e fez o jogo semelhante ao sonho!

 

Em sua timidez e um ar risonho

adentra no local, com seu rosário,

faz o sinal da cruz (um tanto hilário),

e cria a sua aposta - e aqui exponho:

 

Marcou o dois, o quatro, o cinco e o seis,

também o dez, o doze e o dezesseis!...

Esperançoso, ouvia o resultado!

 

Com garantia em sua sorte plena,

Na fé... Ganhou sozinho a mega-sena.

Na quarta-feira fez o seu reinado!

 

Aila Brito

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

Amanheceu nublado e o clima frio

Não me animava a pôr os pés no chão...

Ainda assim, cumprindo obrigação,

Depressa levantei mantendo o brio.

 

É quarta-feira e o corpo, em arrepio,

Já pensa no domingo, embora, em vão,

Três dias faltam para a fruição

Trazer de volta o espírito vadio.

 

À noite, o futebol anima, um pouco,

Mas quando o time perde fico louco

E o mau humor domina o ledo astral...

 

A "mais valia" põe em xeque a fraco;

São raros os que têm o seu barraco...

Dormir nas ruas é habitual.

 

José Rodrigues Filho

 

 

*QUARTA-FEIRA*

 

 

Que venha a quarta-feira novamente

sem olvidar do ofício semanal,

na zona interiorana ou capital

em busca de um futuro mais presente.

 

 

Que o calendário siga indiferente

e envergue a vestimenta atemporal

do sonho da escalada magistral

nos rastros da labuta intermitente.

 

Que venha conclamar a multidão,

No resto da semana enquanto estão

Abrilhantando a sua fantasia.

 

Na espera de uma quarta-feira nova,

No meio da semana que renova

A inspiração da nossa poesia!

 

Adilson Costa