Inscrição para um Túmulo sem Cruz
Do cemitério na porta um jazigo
Sem sinal, símbolo este da indigência.
Forma o solo pequena saliência
E um pássaro desce a ele como amigo.
O corpo ali presente é dum mendigo
Que se viu obrigado, por decência,
A abrir mão de um amor na adolescência
E a si mesmo ele deu feral castigo.
E viveu como vive um passarinho,
E fez de capinzal seu leito e ninho,
Rindo de sua sina malferida...
Jaz agora também por entre arbusto,
Porque a morte nos pede certo custo
E que é bem mais alto que o da vida.