TRILHA DE SONETOS LXIII – DIÁRIO DE SEGUNDA-FEIRA

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Em recomeço, à madrugada escura,

Pelo cortante frio do caminho,

Feito um guerreiro de mochila vinho,

Adentro na duríssima ventura.

 

Ao encarar à lida urbana e pura,

Eu vejo a multidão em desalinho,

Andando e resmungando, bem baixinho,

Como se encaminhasse à sepultura.

 

Testemunhando a cena costumeira,

Eu desafio à burguesia inteira,

No corpo do labor cotidiano...

 

As faces com as marcas de canseira

Evidenciam a segunda-feira

E o velho realismo suburbano!

 

Ricardo Camacho

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

A vida continua comumente!

Na tenra madrugada já se escuta

as vozes da cidade em sua luta

de se fazer notar, com unha e dente.

 

A vida continua, segue em frente!

Nada mudou e não se vê permuta.

O sonho faz a turba resoluta:

persegue e busca o pão que lhe sustente.

 

Após a festa e os gastos de domingo

não adianta o grito ou choramingo;

as contas não se pagam com promessa.

 

Trajada com vestidos de esperança

a multidão silente empurra e avança:

segunda-feira... A lide recomeça!

 

Geisa Alves

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Rompendo a madrugada, o sol levanta,

E estende os raios como um terno abraço

Incentivando à plebe, o firme passo

Rumo ao labor, na sorte que o garanta!

 

Início de semana, a lida é tanta!...

Mas vem com energia, o forte braço

Alimentar a todos, sem cansaço,

Do rico ao pobre... em luta sacrossanta!

 

E a "massa" faz girar, com alegria,

A vida, que o engenhoso Deus recria,

A cada aurora, pela mão guerreira...

 

Que traz no afã, o esforço semanário

E a robustez ao novo itinerário,

No recomeço da segunda-feira!

 

Aila Brito

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Difícil levantar segunda-feira,

após comemorar feliz domingo.

No limiar do tempo (que eu distingo),

mistura-se trabalho e brincadeira.

 

Inútil… sei que, ainda não se queira,

restando da coragem só um pingo,

convém entrar na dança… corro, gingo…

Quem sabe, o corpo espanta a pasmaceira!

 

Desponta a maratona e, feito mágica,

desfaz-se a cena turva, quase trágica,

nem sei por onde chega a animação…

 

Mas vejo a luz de fora, da janela;

de dentro, a minha luz, que não aquela,

acende o dia, e jorra a inspiração!

 

Elvira Drummond

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Depois de despertar, a contra gosto,

eu volto a ser plebeu, não adianta,

escuto inconformado: "vai, levanta,

que aos poucos ficarás mais predisposto."

 

Contemplo os passarinhos, lavo o rosto,

e a falta de coragem se agiganta

na lata de sardinha que suplanta

em demasia um sonho ao léu exposto.

 

Termina em breve o meu vale transporte,

mas não reclamo nunca a minha sorte

da bênção de jamais faltar a feira.

 

Divago, agradecido, na estação

à espera dos transportes, quando então,

avisam que chegou segunda-feira.

 

Adilson Costa

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Os dias transcorridos na labuta

Consomem o vigor dos operários

Que trocam suas vidas por salários

Sem perceber, das classes, a ampla luta.

 

No campo e nas cidades, sempre astuta,

A burguesia goza os corolários...

Cedidos pelo voto aos salafrários

Que lucram sem usar a força bruta.

 

Semana após semana, no bagaço,

Somente tendo o corpo feito de aço

Para aguentar tamanha exploração.

 

No sábado, o descanso se inicia...

Domingo! Tudo vira poesia.

Segunda-feira traz a servidão.

 

José Rodrigues Filho

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Alguém que passa, quase que invisível,

Servindo seus senhores nas festanças

Quase um balé perfeito em suas danças

Num equilíbrio limpo e muito incrível.

 

Com paletó, gravata, e um alto nível,

E educação nas falas, sempre mansas,

Atende fielmente até crianças,

Seu coração se faz demais sensível.

 

Enquanto a maioria das pessoas

Da sexta até domingo gritam loas,

Aproveitando a folga, e as brincadeiras.

 

Esse operário enfrenta bravamente

O seu labor, servir, bem sorridente,

As suas folgas só, segundas-feiras.

 

Douglas Alfonso

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

Segunda-feira: o dia do começo,

Semana que inicia novamente,

Voltar ao exercício negligente,

Voltar para a dieta que eu mereço.

 

É dia de voltar para "o batente",

E pesquisar de novo cada preço,

Olhar em quais eventos compareço,

Pagar aquela conta inadimplente.

 

Começo de mais um pequeno ciclo,

Será que desta vez eu me reciclo?

Tomara que eu escolha o que convém.

 

É dia de voltar para a rotina,

Tentar mais uma vez a disciplina,

Deus queira que a semana corra bem!

 

Luciano Dídimo

 

 

*SEGUNDA-FEIRA II*

 

Na madrugada, acorda resoluta

A contornar com zelo e valentia,

Quaisquer procelas do seu dia a dia...

Com garra e força de mulher astuta!

 

Mal se alimenta e logo vai à luta

Esperançosa e cheia de alegria,

A garantir o pão de cada dia...

Mantendo a fé constante na labuta!

 

Maria, expõe seus doces lá na feira:

Pudins, os mugunzás, e a macaxeira...

Enquanto a voz ecoa "aos quatro ventos"

 

A divulgar, feliz e bem faceira,

Todo o cardápio da segundafeira,

Agradecendo a Deus os seus proventos!

 

Aila Brito

 

 

*SEGUNDA-FEIRA*

 

O início da semana se apresenta:

bem cedo o galo canta com vontade,

estou na cama, ainda sonolenta,

é hora de enfrentar a realidade.

 

Temer o dia nunca me acrescenta,

melhor manifestar serenidade...

Faço o sinal da cruz com água benta,

a crença sempre atrai a claridade!

 

Toda segunda-feira me desperta,

há muito o que fazer, estou alerta,

corro e facejo o dia a ser vencido...

 

Escolho o meu vestido preferido,

então reluz um brilho em meu olhar,

sorrio para o espelho, sei me amar!

 

Janete Sales Dany