ONDE NUNCA ESTIVE &+
onde nunca estive 1 -- 30 jan 18
os dias são metálicos. despedem-se
indiferentes, envoltos em armaduras;
pouco valor as intenções mais puras
têm nessa despedida, na qual cedem-se
côdeas de vida, nas quais medem-se,
sem retrocesso, mil centelhas duras,
cem golpes do destino em fatiaduras
distribuídas, sem que em nada quedem-se
sequer migalhas dos dias cintilantes
que foram mocidade; mais pesados
os dias que compõem maturidade,
até restarem somente, embolorados,
os dias da velhice, rastejantes,
em que o bronze se azinhavra sem piedade.
onde nunca estive 2
na realidade, não acredito no que dizem:
que com a idade se encurtem nossos dias.
é bem verdade encurtarem-se as quantias
que ainda temos a viver e assim deslizem
as perspectivas dos passos que ainda pisem
por este mundo pleno de heresias
e que esses planos a que te permitias
percentualmente não mais se realizem.
mas me parece que os dias me transcorrem
com a mesma lentidão ou rapidez
que me mostravam tantas décadas atrás
e quando bem aproveitadas, ainda escorrem
as horas vivas, em plena maciez,
sem de crê-las mais curtas ser capaz...
onde nunca estive 3
contudo, os dias seguem escorrendo,
impérvios às mais árduas tentativas
de fazê-los parar. são coisas vivas,
só me permitem os momentos que estou vendo,
um a um a correr como um adendo
em direção às cordas recolhidas ,
que se enrolam nas estradas percorridas...
são bem guardadas. nada estou perdendo.
dorme a memória num passado torto
de anéis concêntricos, nunca linhas retas,
algumas vezes a sofrer remontamento,
quando a sofreguidão de um dia morto
se mistura a lembranças mais discretas
em mescla feita de amortecimento.
onde nunca estive 4
e numa dobra dos novelos dessa corda
se contaminam momentos diuturnos,
registrando quaisquer sonhos noturnos
com que a memória desperta não concorda,
mas uma volta superpõe-se a outra borda
dos círculos concêntricos diurnos,
na confusão de mil símbolos soturnos
com esses tais que a luz do dia nos recorda!
e de repente, no livro do passado,
registra algum evento desusado
a misturar o que se sonha e o que se vive
e assim assoma final recordação
das coisas que se sonha e das que são
nesses lugares em que, de fato, nunca estive!
onde penso ter estado 1 -- 31 jan 18
o mar da mente ruge e se encapela,
percorrido por tufões perimetrais,
por peculiares ciclones marginais,
a destruir visões que a mente vela.
e a mente ruge ao derrubar da estela
que eu lhe erguera em meus sonhos noturnais,
foram tão breves esses sonhos imortais,
cai o obelisco e já me esqueço dela.
o mar devora pesadelo e sonho
e só me restam visões fragmentadas,
oscilando entre pureza e impudicícia,
mas quando à mente racional exponho
as visões estão limpas, peneiradas
por grãos de areia em breve silvo de malícia.
onde penso ter estado 2
de fato existem memórias de algum sonho
que são muito mais claras que as reais;
elas assomam à mente, naturais
como um passeio por lugar risonho.
recordo mesmo retrato bem bisonho
de sonho tido aos quatro anos e não mais:
era uma flor de quatro pétalas iguais
que mudavam de cor; e de um medonho
pesadelo que passei, já tendo dez,
com criatura que pai e mãe me devorava;
segundo penso, o derradeiro sonho mau.
já nesse tempo, nem sei se nisto crês,
percebera que meus sonhos davam vau
e bem tranquilamente os controlava.
onde penso ter estado 3
com três anos já aprendera a ler;
mais do que o monstro, livros devorava;
muito mais lia, de fato, que brincava,
cada aventura a prender-me em seu poder.
porém num livro diferente pude ver
um conselho que bem fácil aceitava:
o sonho é teu! se assim não te agradava,
bem facilmente o podes reescrever!
criança ainda, disso nunca duvidei.
se adulto fôra, talvez não o aceitasse,
mas aprendi a meus sonhos dirigir
a um resultado que então melhor achei
e se o final ainda assim desagradasse,
era mais fácil o interromper do que dormir!
onde penso ter estado 4
até hoje mantenho a faculdade,
mas raramente me tem aparecido
uma quimera de teor menos querido,
que interromper me interesse de verdade!
percorro sonhos de real utilidade;
meu inconsciente talvez os tenha constituído
e me aconselham como o alvo perseguido
possa alcançar com maior habilidade.
ou simplesmente eu mergulho no inconsciente
coletivo, a percorrer terras diversas
dessas que um dia percorri no mundo
e reconheço ali amigos bem frequente,
com quem posso travar longas conversas
de teor bem jocoso ou bem profundo...
onde penso ter estado 5
e ao percorrer esse mar encapelado
durante os acordados devaneios
é mais difícil encontrar os meios
para mudar o conteúdo encapsulado.
satisfazer a meu querer tenho buscado,
mas ao interromper os seus meneios,
quando me atacam pensamentos feios,
consigo apenas ser por isso despertado.
embora busque o conselho da escritura
e não andar ansioso, não é fácil
correr de mim as preocupações
e se em modorra faço uma cesura,
na esperança de final mais grácil,
apenas corto-lhe a fiada de ilusões...
onde penso ter estado 6
assim percebo a ironia claramente,
que fácil possa meus sonhos controlar
e não a vida, sem meu despertar:
tanto problema a me chegar premente!
não que de fato me ache descontente,
mas poder seria tão bom determinar
cada dia qual o pude planejar
ao invés de tanto mostrar-se diferente!
com bom humor falho em manipular
a variedade que em torno se propõe,
modificando a parte que me toca...
tantos projetos na mente a pulular
sem se tornarem realidade... o homem põe,
diz o ditado... mas só a galinha choca!
ALUSÕES I -- 1º FEV 2018
O SOL SE PÕE EM ROSA, AZUL E GRIS,
PELO ESPECTRO DA NOITE PERSEGUIDO.
SE EU FOSSE ANTIGO, POR CERTO TERIA CRIDO
QUE O SOL MORREU PORQUE MEU DEUS O QUIS!
E DE MINHAS PRECES LANÇARIA UM CHAFARIZ
PARA NÃO SER PELAS TREVAS ENGOLIDO
OU POR UM GÊNIO QUALQUER, DO MAL NUTRIDO:
QUE O DEUS CRIASSE NOVO SOL DE LOURO GIZ!
QUE A MADRUGADA ENCHESSE DE PERFUME
E RECOBRISSE AS TREVAS COM ALUME,
DE TAL FORMA QUE A LUZ ME RETORNASSE
E EM CINCO PRECES DIÁRIAS ME AJOELHASSE,
PARA NA MÁGICA DE MEU PENSAMENTO
ESSE MEU DEUS CONJURASSE EM MEU LAMENTO!
ALUSÕES Ii
NATURALMENTE, ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO,
TERIA CERTEZA DE QUE O DOM EU CONJURASSE,
QUE NESSAS REZAS COM QUE ME AJOELHASSE
CONVENCERIA ESSE MEUS DEUS PRIMÁRIO.
QUE OBEDECESSE MEU PEDIDO AGRÁRIO,
QUE A LUZ DO SOL OU A CHUVA ME LANÇASSE,
QUE A FORÇA DE MINHA PRECE O AMARRASSE
PELO ARCANO PODER DO ATRABILI[ÁRIO!
CASO FALHASSE, SACRIFÍCIO EU QUEIMARIA,
COMO SE O DEUS SENTISSE O SUAVE CHEIRO
E DE TAL EMANAÇÃO SE ALIMENTASSE...
DE QUALQUER FORMA, MEU DEUS DOMINARIA,
MEU SERVO ONIPOTENTE, AO DERRADEIRO
MOMENTO EM QUE SUA GLÓRIA CONVOCASSE!
ALUSÕES Iii
MAS NESSA COERÇÃO VEJO AINDA TANTA GENTE
ACREDITAR, FIRME A CRENÇA NA MAGIA,
QUE ALEGREMENTE UMA VELA ACENDERIA
PARA COMPRAR O FAVOR DO ONIPOTENTE!
OU A SABER QUANTO É ONIPRESENTE,
GRANDE DEMAIS PARA TÊ-LO ONDE QUERIA,
SERIA A VELA PARA A SANTA MÃE MARIA
OU PARA UM SANTO DE PODER EQUIVALENTE!
NÃO QUE EU DUVIDE DO PODER DE UMA ORAÇÃO,
PORÉM SE DEUS A ATENDER, É POR SUA GRAÇA,
JAMAIS QUE TENHA POR MIM SIDO COMPRADO!...
OU QUE PRECISE DE UMA TAL CONVOCAÇÃO
OU SE DISPONHA A ALTERAR O QUANTO FAÇA,
OU QUE MINHA PRECE O TENHA ACORRENTADO!...