AFAGO E CASTIGO

Contemplá-la negra e resplandescente

Enche-me os olhos e deturpa minha mente

Já não me sinto sequer descendente

Tenho a impressão de ter nascido agora

Tal qual um refugiado, sem reconhecer a terra,

Fito-lhe os olhos em busca de me encontrar

E o que acho é senão a ternura da bela

Enganosa e perversa, disposta a matar

E do que eu sabia já não compreendo

Se é doce ou amargo o sabor dessa fera

Se beijá-la ou tê-la o martírio revoga

Se sou eu o torturado, o que digo não voga

Pois sou como quem busca refúgio e afago

Na própria palavra que beija e afoga

Guillherme Sotero
Enviado por Guillherme Sotero em 19/06/2022
Código do texto: T7540756
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