AFAGO E CASTIGO
Contemplá-la negra e resplandescente
Enche-me os olhos e deturpa minha mente
Já não me sinto sequer descendente
Tenho a impressão de ter nascido agora
Tal qual um refugiado, sem reconhecer a terra,
Fito-lhe os olhos em busca de me encontrar
E o que acho é senão a ternura da bela
Enganosa e perversa, disposta a matar
E do que eu sabia já não compreendo
Se é doce ou amargo o sabor dessa fera
Se beijá-la ou tê-la o martírio revoga
Se sou eu o torturado, o que digo não voga
Pois sou como quem busca refúgio e afago
Na própria palavra que beija e afoga