DEZ SONETOS INDIGNADOS
A INGRATIDÃO DA HUMANIDADE
A ingratidão, meu Deus, esta pantera
Que habita o coração da humanidade,
Ignorando o amor e tua bondade,
Chamando-te até mesmo de quimera!
A ingratidão, meu Deus, no mundo impera.
Fazer o bem parece iniquidade!
O agradecimento é leviandade,
Sempre da parte de quem não se espera!...
É contumaz, meu Deus, homens ingratos,
Comer teu pão, depois cuspir nos pratos,
Ignorando o amor com que fizeste!...
E se lhes pede comida, um faminto,
Ignoram o pobre no recinto,
Negando repartir do que lhes deste!...
SONETO DA INGRATIDÃO
A dor da ingratidão é dor pesada,
É dor que não desejo pra ninguém;
É pagar com o mal quem fez o bem,
Desprezar quem lhe ajudou n’empreitada.
A dor da ingratidão deixa arrasada
A natureza de quem ama e confia;
Como é triste sentir melancolia
Isomorfa a de uma alma injustiçada!
Por que tanta ingratidão nesta terra?
Por que tanta covardia, tanta guerra,
Contra quem somente amou, fez o bem?...
Por que age tanto assim a criatura
Que ante o amor recebido se aventura
Ofertar seu desprezo, seu desdém?...
A FALSIDADE DESTE MUNDO
Neste mundo é tamanha a falsidade
Que a verdade, de repente, ocultou-se;
A mentira transformou-se em verdade
E a verdade, em mentira, transformou-se!
Porventura alguém sabe onde a verdade
Neste mundo hodierno extraviou-se?
Em que parte do planeta a bondade
Inda não, em maldade, adulterou-se?
Oh Senhor, nos livrai da falsidade!
Que opera neste mundo de maldade,
Da forma mais arguta e traiçoeira...
Pois no mundo a maldade não se espira:
A verdade transformou-se em mentira
E a mentira — em verdade verdadeira!
AMIGOS DE APARÊNCIA
Cuidado co’os amigos de aparência
Que cercam nossa vida, meu irmão.
Fazê-los confidentes — que imprudência!
Se não contemplam Deus no coração.
Cuidado co’os amigos de aparência,
Fingindo-nos ter amor e união;
Planejando só o mal (com paciência)
Figurados de ovelha e de cristão!
É mister que tenhamos mais prudência,
De tudo o que falamos, na essência,
Pra não incendiarmos u’a floresta!...
Busquemos no Senhor mais sapiência
Pra fugir dos amigos de aparência
Que acreditamos bons, mas que não prestam!
FALSIDADE
Falsidade, fator de rima fácil,
Facilmente encontrada todo dia;
Quer seja na nobreza, em modo grácil,
Ou nos servos da noite nua e fria.
Falsidade, palavra que associa
A calúnia, a mentira e a perdição.
Falsidade, o que Judas fez um dia,
Contra Cristo, ao tramar a traição!
É triste praticar a falsidade
Contra quem nos amou com lealdade
E nunca nos deixou sofrendo a esmo...
Ensinando pra toda humanidade
Que amassem uns aos outros de verdade,
Da maneira que amamos a nós mesmos!
NEM TUDO QUE RELUZ É OURO OU PRATA
Nem tudo nesta vida nos convém,
Paulo escreve deixando bem explícito:
“Tudo é bom, mas nem tudo nos é lícito”,
Provai tudo, mas só retende o bem!
Precisamos enxergar mais além,
Há espinhos nas flores do jardim;
O mundo se camufla para mim...
Porque nem todo abraço amor contém!
Preciso de Jesus na minha vida,
Pois o caminho é estreito e tem subida,
E não posso abandonar minha cruz...
Pois a vida a cada dia nos retrata:
Nem tudo que reluz é ouro ou prata...
E só existe uma esperança: é JESUS!
PÁSSARO FERIDO
Pássaro ferido na fria calçada
Como um condenado a viver ao chão,
Quem se importa com sua asa quebrada?
Seus sonhos alados na imensidão?...
Qual o motivo? Qual foi a razão
Dessa maldade contra um indefeso?
Inveja do voo?... Da sua emoção?...
-Pássaro ferido sentindo-se preso!
Oh dias vividos! Oh noites sonhadas!
Por que tanto ódio, pessoas malvadas?
As asas do sonho - por que quebrar?...
Às vezes me sinto, em horas marcadas,
Qual passarinho de asas quebradas,
Por tanto na vida viver a sonhar!
O DEUS DA PROVIDÊNCIA
Quebraram as asas dos meus ideais,
Decretaram uma lei: não podes sonhar!
O vosso inimigo ele é forte de mais,
Guardai vossas armas, não podes lutar!
Fiquei desolado, sem força, sem paz...
Queria ser forte, valente, lutar!
Foi quando escutei uma voz me falar:
Não temas meu filho que Vou te ajudar!
Não temas a força do teu inimigo
Porque nesta batalha eu estou contigo,
O gigante não irá mais ti afrontar!...
Eu sou o Deus Forte, Sou Jeová-Jiré,
Eu estou aqui para te socorrer,
Entrei nesta guerra para guerrear!
ATÉ QUANDO?
'Té quando teu torrão será perverso?
Até quando a terra mãe será ingrata
Contra o filho que lhe ama e que lhe trata
Como a joia mais bela deste universo?
Até quando zombará de teu verso
Essa sociedade aristocrata,
Rotulando contra ti essa bravata,
De pseudopoeta, controverso?
'Té quando seguirás assim na terra,
Vítima dos horrores dessa guerra,
Recebido com tamanha ironia?
'Té quando manterás acesa a chama
Declarando todo instante que inda ama
A terra que te inspira a poesia?...
POR QUE NÃO ESQUECER A TERRA INGRATA?
Por que não esquecer a terra ingrata
Que a seu filho renega, que maltrata,
Lhe fazendo sentir-se um Dom Quixote,
De utopias, levando o seu pacote?...
Por que não esquecer a terra ingrata
Que com tanto desdém hora lhe trata?...
Mas a terra, poeta, que culpa tem
Se há pessoas que não lhe querem bem?
A terra que o Senhor lhe fez nascer
Porventura é culpada do sofrer,
Dessa ingratidão que não se cancela?...
A sua terra é seu berço, seu torrão,
Que culpa pode ter da ingratidão
Dos levianos que habitam sobre ela?...
DESABAFO DE UM POETA
Não me venham colocar nome de praça,
Não me venham colocar nome de rua,
Pois somente quando morre é que tem graça?
Que reconhecem poeta em terra sua?...
A indiferença vivida ela é tão crua,
É um desprezo ignóbil que não passa;
Por que só quando se morre se atenua?
É que reconhece o poeta a sua raça?...
Por que tanta ingratidão, tanta descrença
A sua obra? Por que tanta indiferença
Ao nirvana que tanto amor encerra?...
Por que, em vida, ele não é valorizado?
Por que, apenas, quando morre é que é lembrado,
Que reconhecem o poeta em sua terra?...